Trabalhamos com um produto, o livro, que é, até o presente momento, o suporte mais comum e eficiente para a transmissão, ao longo do tempo, do conhecimento produzido por gerações e gerações de habitantes deste planeta. No Brasil, entretanto, mesmo com um produto tão eficiente e tão carregado de simbolismo, o mercado do livro, principalmente para a parte de livrarias, não consegue formar profissionais para atender à demanda que o mercado requer e necessita.
Aproveitando o gancho de um post do Gerson Ramos no seu blog Vivo de Livro, sobre como deve ser chamado o profissional que trabalha nas livrarias no atendimento direto ao cliente, levanto aqui uma nova alternativa: livreiro. À primeira vista pode parecer uma questão de menor importância, mas acho que a falta de um nome que dê "cara", que possa identificar uma profissão à simples menção dele, não estimula que se pense de forma consistente, contínua e de longo prazo em formação profissional, em cursos técnicos, em métodos de ensino, em pesquisas na área etc. Trabalhar numa livraria, salvo raras exceções no mercado, é visto, é percebido pelas pessoas, como um emprego temporário (até que apareça algo melhor), e não como um trabalho que tenha a perspectiva de uma carreira e de crescimento na empresa e na área. Esta visão independe do nível de formação escolar das pessoas, tenham elas o ensino fundamental, médio ou superior, completo ou não. Afinal, quem não gosta de ter um nome profissional que identifique, perante os outros, a sua área de trabalho, seja ele torneiro mecânico, garçon, economista, revisor etc, etc. ? Portanto, se a profissão de livreiro não existe, por que investir nela?
Se pensarmos no livro como produto final de uma cadeia de produção, a livraria, seja ela física ou virtual, fica no fim dessa cadeia e exatamente no ponto onde acontece a realimentação da mesma, isto é, o momento em que ocorre a venda do livro para o consumidor final - o cliente, o leitor. Pensando ainda em termos de cadeia de produção, na área editorial, que fica antes das livrarias, os profissionais que lá trabalham como, editores, revisores, designers, produtores gráficos etc., passam por uma formação profissional, na maioria das vezes universitária, de vários e vários anos. Por mais paradoxal que pareça, a existência de inúmeros cursos universitários, tanto públicos quanto privados, com investimento de recursos financeiros para a formação de profissionais capazes de produzir o livro, é inversamente proporcional a inexistência de cursos, técnicos ou universitários, para a formação de profissionais para a venda desse livro produzido. Se o livro é um produto especial e com uma variedade imensa (são 20 mil novos títulos por ano só no Brasil), como é que não se investe na formação de profissionais para a área de venda nas livrarias? Não adianta pensar que uma pessoa que faz um curso de vendas para o comércio em geral, seja sapataria, loja de roupas ou qualquer outra, estará apta para vender numa livraria. Quantos tipos de sapatos podem ser oferecidos numa sapataria? Uns 300 ou 500? E no máximo divididos em para mulheres, homens e crianças. Numa livraria podem ser oferecidos mais de 2 milhões e 600 mil títulos, para entrega imediata ou a encomendar, e divididos por centenas de áreas.
De uns poucos anos pra cá, algumas iniciativas começaram a surgir, como a Universidade do Livro da Unesp e a Escola do Livro da CBL em São Paulo, e a Estação das Letras, no Rio de Janeiro, com o projeto Livraria do Séc XXI. Neste ano de 2008, a ANL, passou a oferecer em São Paulo, o curso capacitador nas livrarias. São iniciativas importantes mas que, infelizmente, não suprem a necessidade do atual mercado livreiro no que diz respeito às livrarias. Na hora em que uma livraria Cultura, Saraiva, Travessa, Livraria da Vila, Livrarias Curitiba, Fnac etc, pensam em expandir seus negócios ou um empresário-livreiro pensa em abrir sua primeira loja ou filial, o principal problema comum não é a falta de capital para investir e, sim, a falta de mão-de-obra especializada. As redes ainda têm a facilidade de atrair a mão-de-obra que já existe no mercado (vide os sites delas onde sempre existe uma chamada para recrutamento e seleção). Ainda no caso das redes, onde a concorrência é a cada dia mais acirrada, não é possível esperar que a mão-de-obra simplesmente apareça e, por isso, são obrigadas a investir elevados recursos para a formação da mão-de-obra de que necessitam. Esses recursos poderiam ser investidos na abertura de novas lojas e melhoria dos sistemas de gerenciamento, o que aceleraria o crescimento do mercado como um todo.
Portanto, está mais do que na hora que editoras e livrarias e suas entidades representativas, como Snel, CBL, ANL, Libre, Abrelivros, ABEU, ABDR etc, pensem no mercado do livro com uma visão mais ampla, para além do seu negócio específico, sob o risco de estagnação de todo setor. Não adianta ter a capacidade de produzir cada vez mais e melhor e perder a capacidade de vender. Livros em excesso nos depósitos das editoras são mais do que estoque; viram encalhe.
Em um próximo post espero poder apresentar algumas alternativas para os problemas relatados acima. Não é mais possível esperar que a formação de uma pessoa ocorra somente pela observação do que os outros fazem e pelo seu próprio fazer diário, com seus erros e acertos, como foi o meu caso. É necessário sistematizar o conhecimento e encontrar métodos eficientes e rápidos de transmissão aos interessados na área do livro.
Aproveitando o gancho de um post do Gerson Ramos no seu blog Vivo de Livro, sobre como deve ser chamado o profissional que trabalha nas livrarias no atendimento direto ao cliente, levanto aqui uma nova alternativa: livreiro. À primeira vista pode parecer uma questão de menor importância, mas acho que a falta de um nome que dê "cara", que possa identificar uma profissão à simples menção dele, não estimula que se pense de forma consistente, contínua e de longo prazo em formação profissional, em cursos técnicos, em métodos de ensino, em pesquisas na área etc. Trabalhar numa livraria, salvo raras exceções no mercado, é visto, é percebido pelas pessoas, como um emprego temporário (até que apareça algo melhor), e não como um trabalho que tenha a perspectiva de uma carreira e de crescimento na empresa e na área. Esta visão independe do nível de formação escolar das pessoas, tenham elas o ensino fundamental, médio ou superior, completo ou não. Afinal, quem não gosta de ter um nome profissional que identifique, perante os outros, a sua área de trabalho, seja ele torneiro mecânico, garçon, economista, revisor etc, etc. ? Portanto, se a profissão de livreiro não existe, por que investir nela?
Se pensarmos no livro como produto final de uma cadeia de produção, a livraria, seja ela física ou virtual, fica no fim dessa cadeia e exatamente no ponto onde acontece a realimentação da mesma, isto é, o momento em que ocorre a venda do livro para o consumidor final - o cliente, o leitor. Pensando ainda em termos de cadeia de produção, na área editorial, que fica antes das livrarias, os profissionais que lá trabalham como, editores, revisores, designers, produtores gráficos etc., passam por uma formação profissional, na maioria das vezes universitária, de vários e vários anos. Por mais paradoxal que pareça, a existência de inúmeros cursos universitários, tanto públicos quanto privados, com investimento de recursos financeiros para a formação de profissionais capazes de produzir o livro, é inversamente proporcional a inexistência de cursos, técnicos ou universitários, para a formação de profissionais para a venda desse livro produzido. Se o livro é um produto especial e com uma variedade imensa (são 20 mil novos títulos por ano só no Brasil), como é que não se investe na formação de profissionais para a área de venda nas livrarias? Não adianta pensar que uma pessoa que faz um curso de vendas para o comércio em geral, seja sapataria, loja de roupas ou qualquer outra, estará apta para vender numa livraria. Quantos tipos de sapatos podem ser oferecidos numa sapataria? Uns 300 ou 500? E no máximo divididos em para mulheres, homens e crianças. Numa livraria podem ser oferecidos mais de 2 milhões e 600 mil títulos, para entrega imediata ou a encomendar, e divididos por centenas de áreas.
De uns poucos anos pra cá, algumas iniciativas começaram a surgir, como a Universidade do Livro da Unesp e a Escola do Livro da CBL em São Paulo, e a Estação das Letras, no Rio de Janeiro, com o projeto Livraria do Séc XXI. Neste ano de 2008, a ANL, passou a oferecer em São Paulo, o curso capacitador nas livrarias. São iniciativas importantes mas que, infelizmente, não suprem a necessidade do atual mercado livreiro no que diz respeito às livrarias. Na hora em que uma livraria Cultura, Saraiva, Travessa, Livraria da Vila, Livrarias Curitiba, Fnac etc, pensam em expandir seus negócios ou um empresário-livreiro pensa em abrir sua primeira loja ou filial, o principal problema comum não é a falta de capital para investir e, sim, a falta de mão-de-obra especializada. As redes ainda têm a facilidade de atrair a mão-de-obra que já existe no mercado (vide os sites delas onde sempre existe uma chamada para recrutamento e seleção). Ainda no caso das redes, onde a concorrência é a cada dia mais acirrada, não é possível esperar que a mão-de-obra simplesmente apareça e, por isso, são obrigadas a investir elevados recursos para a formação da mão-de-obra de que necessitam. Esses recursos poderiam ser investidos na abertura de novas lojas e melhoria dos sistemas de gerenciamento, o que aceleraria o crescimento do mercado como um todo.
Portanto, está mais do que na hora que editoras e livrarias e suas entidades representativas, como Snel, CBL, ANL, Libre, Abrelivros, ABEU, ABDR etc, pensem no mercado do livro com uma visão mais ampla, para além do seu negócio específico, sob o risco de estagnação de todo setor. Não adianta ter a capacidade de produzir cada vez mais e melhor e perder a capacidade de vender. Livros em excesso nos depósitos das editoras são mais do que estoque; viram encalhe.
Em um próximo post espero poder apresentar algumas alternativas para os problemas relatados acima. Não é mais possível esperar que a formação de uma pessoa ocorra somente pela observação do que os outros fazem e pelo seu próprio fazer diário, com seus erros e acertos, como foi o meu caso. É necessário sistematizar o conhecimento e encontrar métodos eficientes e rápidos de transmissão aos interessados na área do livro.