domingo, 19 de dezembro de 2010

A Tradução como Diferencial Editorial

Ainda não é regra geral no mercado editorial brasileiro a preocupação com boas traduções. E isso diz respeito a editoras, livrarias e a leitores também. Sendo, os leitores, os que dispõem de menos condições para avaliar uma boa tradução na hora de comprar um livro traduzido.

A situação fica mais crítica quando o livro em questão já está em domínio público, isto é, quando o autor do livro morreu há mais de 70 anos. São inúmeros os casos de uma mesma obra publicada por várias e várias editoras. Nesse caso, como saber qual escolher? O critério mais simples, e talvez o mais usado, é o do menor preço. Mas será esse o que trará melhor custo benefício? Normalmente o barato tem qualidade inferior. Mas há exceções, é claro. Vejamos o exemplo do Alice no País das Maravilhas do Lewis Carroll. Uma pesquisa rápida numa livraria virtual, e podem ser encontradas muitas edições. Selecionei cinco delas que têm o texto integral, sem adaptações:
por R$ 45,00 a da Cosac
por R$ 28,90 a da Ática
por R$ 19,90 a da Zahar (em capa dura e tem as duas histórias com a Alice)
por R$ 12,90 a da Martin Claret
por R$ 12,00 a da LPM

E aí, qual escolher? Um caminho é tentar conhecer qual a importância que as editoras dão à tradução. Começar a conhecer o nome dos tradutores, como se conhece o nome dos autores. Recolher informações sobre autores que ganharam prêmios e/ou elogios pela qualidade do seu trabalho. No caso do Alice, na edição da Cosac, a tradução de Nicolau Sevcenko recebeu muitos elogios da crítica, e na edição da Zahar, a tradução de Maria Luísa Borges recebeu o prêmio Jabuti em 2002. A partir de 1978 o prêmio Jabuti passou a ter a categoria tradução. Veja a relação completa aqui.

Cada vez mais o trabalho dos bons tradutores é fundamental, ainda mais nestes tempos de conexão total pela internet. Esse cuidado por parte das editoras vai separar o que tem qualidade daquilo que fica próximo de uma tradução como se fosse via Google Translator. E a editora que não tomar os devidos cuidados corre o risco de ver sua marca perder credibilidade. Para um exemplo, veja aqui a análise de algumas obras da coleção da Folha de São Paulo, Livros que Mudaram o Mundo, por Denise Bottmann.

Quem quiser se aprofundar no assunto tradução, recomendo o excelente blog da tradutora Denise Bottmann, o não gosto de plágio.

Para terminar reproduzo a entrevista que André Telles e Rodrigo Lacerda, premiados com o Jatubi de 2009 pela tradução do O Conde de Monte Cristo, concederam para o site da editora Zahar sobre os detalhes da tradução de Os Três Mosqueteiros, edição definitiva, comentada e ilustrada, de Alexandre Dumas.

Entrevista: André Telles e Rodrigo Lacerda

O Conde de Monte Cristo, ganhou o Prêmio Jabuti 2009 de melhor tradução de obra literária francês-português. Como foi traduzir agora Os três mosqueteiros, a obra mais famosa de Alexandre Dumas?

A tradução foi feita com o entusiasmo de dois admiradores de clássicos de aventuras. Somos duas pessoas marcadas pelas leituras de Dumas, desde a nossa adolescência. O fato de, ao contrário do Conde, os Mosqueteiros abundarem em cenas de comédia, exigiu uma tradução mais livre, eventualmente mais fiel ao espírito do que à letra do texto. Também o ritmo acelerado da ação exigiu bom senso, para avaliar quando, em relação ao original, pequenas variações na pontuação das frases contribuía para a manutenção desse ritmo, privilegiando-o em detrimento a uma obediência cega (e burocrática) a uma pontuação mais comum na língua francesa do período. Uma diferença - a princípio banal mas que costuma afugentar o jovem leitor - em relação às traduções até hoje publicadas foi a adoção da forma de tratamento você entre os mosqueteiros, em lugar do tu ou do vós. Isso torna o texto muito mais leve de se ler, e muito mais plausível ao leitor de hoje, para quem é difícil imaginar, por exemplo, dois grandes amigos, como dArtagnan e Athos, tratando-se por vós. Claro que, sempre que os personagens dos reis e ministros estavam na cena, o protocolo de tratamento a chefes de Estado é mantido, novamente para dar verossimilhança à cena, pois não se imagina um camareiro chamando Luís XIII de você. Tentamos cumpádi, mano, véio, mas por algum motivo também não ficou legal... Vale mencionar também que nossas edições de Dumas tomam cuidados que nem mesmo as francesas tomam. Por exemplo: se no capítulo 1 o personagem é louro, e a partir do capítulo 2 ele sempre aparece com vastas cabeleiras morenas, evidenciando uma contradição obviamente decorrente do fato de o livro ter originalmente sido publicado como folhetim, isto é em partes, e considerando o fato comprovado de que Dumas nunca reviu seus livros depois de publicados integralmente, nós protegemos o leitor de eventuais confusões eliminando a contradição, mas de forma absolutamente cirúrgica, sem mudar absolutamente nada mais da frase em que a contradição aparece. Nos casos em que mexidas maiores do que a simples troca de uma palavra se fariam necessárias, puxamos uma nota e explicamos a contradição, citando as páginas em que as informações contraditórias aparecem, de modo, novamente, a que o leitor não se confunda e que possa se certificar de que não estava com uma falsa impressão sobre algum ponto do texto, mas sim que fora levado a erro pelo próprio modo de produção do autor. É uma maneira de fazer uma edição minimamente crítica sem entediar o leitor. Do ponto de vista mais prático, no entanto, a dinâmica de trabalho foi a mesma que utilizamos no Conde: o André faz o texto-base integral; eu, Rodrigo, faço um novo tratamento pesado, cotejando linha por linha, e depois fazemos um segundo tratamento já na primeira prova. Enquanto isso, o André faz a busca das imagens e de bibliografia, enquanto eu faço as notas, pedindo socorro a ele quando é absolutamente necessário. Do ponto de vista da padronização do texto, usamos basicamente os mesmo critério que no Conde. Todos visando a compreensão mais fácil e imediata ao leitor.

A tradução foi feita a partir de qual versão?

Creio que essa pergunta não se aplica muito bem aos romances do Dumas, cujos textos não receberam até hoje, na França, um tratamento crítico digno desse nome, com edições que registrem variantes, contradições internas etc. A tradução tomou com base a edição da Pléiade, que difere das outras apenas pelo aparato crítico que a acompanha.

Como foi a confecção de notas para esta edição? Que tipo de características foram enfatizadas?

A principal orientação da nota é atender às lacunas de informação do próprio texto. Isso acontece quando um personagem histórico é referido e, no resto todo do romance, não se tem mais nenhuma informação ou referência sobre ele, ou, em outro caso, quando o original usa uma expressão típica da época sem maiores explicações, como it de justice, por exemplo. Não há tradução para isso, é um jargão da monarquia francesa, mas o leitor brasileiro não é obrigado a saber do que se trata. A segunda função das notas é apontar as contradições do próprio texto, de modo a que o leitor não fique confuso e sua leitura continue fluente. A terceira função das notas é, quando o enredo do romance assim o exige, dar ao leitor brasileiro informações básicas sobre o pano de fundo histórico do período, que para o leitor francês talvez esteja claro, pois ele pode ter estudado aquele assunto no colégio, mas que não necessariamente foi o caso do leitor brasileiro. Um exemplo disso, nos Mosqueteiros, é o cerco de La Rochelle, episódio importante no ocaso das Guerras de Religião na França, entre católicos e protestantes. A emoção da história só aumenta se você entende a dimensão histórica dos acontecimentos, pois dArtagnan e cia. estão intimamente ligados a eles. Em compensação, fugimos das notas que explicam minúcias absolutamente decorativas da história da França, ou a genalogia das ruas de Paris e coisas assim, exclusivamente de interesse do leitor francês (se tanto), que enchem páginas e páginas de notas nas edições francesas.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

De Onde Vêm as Boas Ideias

Steven Johnson já foi citado como um dos mais influentes pensadores do ciberespaço pelos periódicos Newsweek, New York Magazine e Websight. É editor-chefe e cofundador da Feed, premiada revista cultural on-line. Graduou-se em semiótica pela Brown University e em literatura inglesa pela Columbia University. A Zahar já publicou cinco de seus livros e em 2011 publicará mais um, aquele que o próprio autor, em conversa com Mariana Zahar na Campus Party de 2008 em São Paulo, disse para ela que "estou escrevendo o livro de minha vida": De Onde Vêm as Boas Ideias.



A seguir a reprodução de uma entrevista dele para O Globo publicada em 14/11/2010 sobre esse novo livro. Os negritos são meus.

"O escritor americano Steven Johnson, especialista em destrinchar temas tecnológicos para o leitor comum, volta a chamar a atenção dos aficionados de ciência e tecnologia com seu livro "Where good ideas come from" ("De onde vêm as boas ideias"), lançado em outubro nos EUA e a ser lançado no Brasil pela Zahar em 2011. Ele desmistifica teses sobre a inovação, como a suposição de que grandes gênios têm ideias do nada depois de grandes momentos de silêncio e contemplação. Besteira. Inovação nasce do caos, diz o autor, um iconoclasta que defende as cidades como polos de produção de novas ideias e garante que nem sempre o dinheiro é o fator motivador de uma descoberta genial. O escritor é fã do jeitinho brasileiro de superar limitações e diz que nem sempre a pobreza restringe a inovação. E para quem não se considera um Einstein, Johnson dá seus conselhos. Primeiro, que as famílias estimulem seus filhos a cultivarem hobbies e atividades paralelas ao estudo. E que as pessoas sempre anotem suas ideias em uma espécie de diário. "Uma ideia que você teve há um tempo pode nem fazer muito sentido, mas quatro anos depois, diante de uma nova realidade, ela pode ser uma ótima ideia".

O GLOBO: Muitas pessoas acham que inovação só é estimulada pela possibilidade de que ela renda dinheiro, uma tese da qual você discorda. Qual a motivação para inovação?

STEVEN JOHNSON: Há motivações múltiplas. Dinheiro é certamente uma delas, mas superestimamos o desejo por dinheiro ou até que ponto o marketing orienta a inovação. O problema com a inovação baseada em marketing é esse desejo de proteger sua ideia porque você quer fazer dinheiro com ela. O grande argumento contra isso é que as melhores ideias frequentemente vêm de processos colaborativos, de redes de ideias ou de criar em cima de processos e ideias já inventados por outras pessoas, de pegar emprestada uma ideia de outra pessoa e desenvolvê-la em outro campo, fazer algo completamente novo. E é essa propriedade de conectividade da inovação que você compromete quando tenta esconder e proteger ou isolar sua ideia. E é por isso que existe esta longa história de defesa de sistemas abertos, seja em universidades, seja em ciência experimental, seja na internet.

O GLOBO: Então a figura do gênio trabalhando isoladamente não existe.

JOHNSON: Há pessoas excepcionalmente inteligentes, mas elas raramente trabalham totalmente sozinhas. Os trabalhos são colaborativos. Em geral, quanto mais conectado você é, mais propenso a ter boas ideias, mas você terá mais chances de ter ideias verdadeiramente originais se estiver cercado de gente diferente de você, se tiver uma rede de influências supreendente. O ponto interessante do livro é justamente a importância da diversidade, não apenas a diversidade multicultural, mas a diversidade de interesses, como você ser um publicitário cercado de arquitetos, cientistas. As coisas que este amigo arquiteto diz podem acender uma centelha de ideia original para sua campanha publicitária. É melhor ser um gênio e, se você for um gênio, que bom para você, mas é melhor que você se coloque num ambiente de diversidade. Outra coisa: nós não perdemos muito tempo pensando no livro como uma ferramenta revolucionária do ponto vista da inovação, mas é um poderoso instrumento de mudança social ao guardar ideias e transmiti-las a outras ações, os antecessores do conhecimento transmitido em rede.
" Historicamente, as cidades são os grandes berços da inovação "


O GLOBO: E há ambiente ideal para que as ideias fluam?

JOHNSON: O problema com as empresas é que elas dedicam somente uma semana durante o ano em que todo mundo sai em retiro e tenta ser criativo e se reúne em sessões de brainstorming. Não há nada mais equivocado do que esta ideia de que um dia todo mundo vai ser mais criativo e, depois, volta todo mundo à rotina do trabalho. Se você quer realmente criar um processo de inovação permanente que percorra toda a empresa, um dos grandes modelos é o Google, onde os empregados dedicam 20% do seu tempo a inovação. É um tempo em que eles podem trabalhar em projetos paralelos vagamente relacionados às metas da empresa, e só o que é pedido é que eles se reportem uma vez por mês a seus superiores fazendo uma atualização do trabalho. O fato é que 25% das inovações geradas na empresa vêm destes 20% de tempo criativo. É um mecanismo poderoso dentro da organização.

O GLOBO: E em casa, nas famílias?

JOHNSON: Depende da estrutura familiar que você tem. Uma das coisas mais interessantes que eu descobri ao fazer os perfis das pessoas que estão neste livro é que quase todos possuem muitos hobbies. Uma das coisas que os pais podem fazer de bom para os filhos é dar o conselho: "Seja apaixonado por alguma coisa ou coisas. Envolva-se". O processo mental de mergulhar realmente em algo, aquela sensação de que você precisa ter muitas informações sobre aquilo e conhecer profundamente, eu acho que isso é algo que os pais devem encorajar nos filhos.

O GLOBO: Em seu livro, você diz que as cidades são bons locais para a inovação. Por quê?

JOHNSON: Se ter boas ideias fosse apenas uma questão de achar um local quieto para pensar, meditar e ter grandes sacadas, a história da inovação estaria restrita a áreas rurais, onde estaria longe de todo o caos e das pessoas. Historicamente, as cidades são os grandes berços da inovação, não apenas pela quantidade, mas pela quantidade de ideias per capita. Apesar disso, as cidades são consideradas perturbadoras e difíceis para a concentração. Mas elas abrigam todo o conceito de caos criativo ao permitir as conexões de que já falamos, a interatividade com o diferente. Há algo nas cidades que te faz esbarrar em gente toda a hora, a ter conversas, tomar café e trocar ideias. As cidades também são excelentes na tarefa de criar subculturas, e as subculturas são importante motor de pensamentos criativos porque as pessoas estão ali trabalhando nos limites da sociedade ou fora dos limites. Acabam gerando novas ideias e novas abordagens de velhas ideias.

O GLOBO: Você acredita que haja alguma relação entre pobreza e inovação?

JOHNSON: Uma das coisas que são fundamentais para a inovação é tempo livre. Quando você está totalmente concentrado em completar seu trabalho, ganhar o contracheque, geralmente não tem tempo de se questionar sobre coisas. Aquela pergunta na linha: "Se eu fizesse isso, o que será que aconteceria?". Em ambientes de muita pobreza é difícil encontrar situações onde haja tempo livre para questionamento. Por outro lado, recursos limitados em determinadas sociedades acabam forçando as pessoas a serem mais criativas. Mesmo nas favelas no Rio e em São Paulo, há coisas incríveis acontecendo em termos de inovação local, incluindo a falta de infraestrutura tradicional nestes locais e as maneiras muitas vezes ilegais em que tentam ter acesso a luz, água ou internet. Há forte elo de empreendedorismo nestes lugares, eles só não estão criando novo Google porque há pouca estrutura básica ainda.

O GLOBO: Existem políticas públicas que possam estimular a inovação?

JOHNSON: Certamente. Financiar pesquisa universitária é parte do que os governos podem fazer e é muito importante. Eu falo no livro sobre a abertura de informações de governo, de modo que as pessoas que não trabalham no governo possam criar produtos e serviços a partir destas informações. Também defendo os ambientes de trabalho compartilhados, como escritórios subsidiados pelo governo em que diferentes profissionais, de diferentes áreas, possam trabalhar juntos. São ambientes realmente inovadores.

O GLOBO: Há países emergentes exemplares em inovação? Fala-se muito em Coreia do Sul.

JOHNSON: Eu gosto muito do Brasil. Fico muito impressionado com o ambiente e a criatividade das pessoas, a maneira como elas adotam a internet, redes sociais, tecnologia da informação. Compraria papéis do Brasil agora, se pudesse. Muitos falam que alguns países não produzem de fato inovação, mas aproveitam ideias de outros países e aplicam em suas realidades, mas isso é muito bom e muito inovador.
" Uma das coisas que são fundamentais para a inovação é tempo livre "

O GLOBO: E você defende no livro que videogames são um tipo de exercício que estimula a inovação. Isso é polêmico.

JOHNSON: Eu defendo a maioria. Os melhores são os que estimulam a formulação de estratégias, não necessariamente os mais violentos. Os games são hoje muito mais complexos de se jogar do que os de quando eu era garoto e mesmo do que atuais programas estúpidos de TV. Como uma espécie de exercício mental, eles têm o seu lado bom.

O GLOBO: A China é muito boa na inovação em ciências exatas, mas fraquíssima em inovação em ciências humanas. Isso tem a ver com o regime autoritário?

JOHNSON: Não sei responder a essa pergunta. Nos EUA, onde temos uma cultura forte de empreendedorismo, gente com 25 anos está abrindo suas próprias empresas. Ao mesmo tempo, temos uma sociedade de consumo sempre disposta a testar novas coisas e novidades, como Twitter ou iPads. Então penso que você tenha que ter as duas coisas para ser bem sucedido como país: um ambiente em que as pessoas tenham espaço para inovar e criar e gente com coragem de consumir essas novidades. Se você tem um, mas não tem o outro, então você tem um problema e acho que parte do problema da China vem daí. Mas eles fizeram tanto progresso em tão pouco tempo que a cópia é uma forma de queimar etapas, neste sentido, quando se moderniza nessa velocidade. Não ficaria surpreso em ver a China como realmente criativa no curto prazo, como aconteceu com o Japão.

O GLOBO: Muita gente no Brasil acha que a internet é um desserviço em termos de estímulo à inovação porque ela afastaria as pessoas do que realmente interessa, fazendo-as perder tempo com bobagem ou sobrecarregando-as de informações. O que você pensa disso?

JOHNSON: A internet certamente nos faz mais sobrecarregados de atividades. Mas se você é do tipo que consegue manter o foco, então os benefícios são enormes, como o leque de conversações agora possíveis e a troca de informações advindas daí. Se alguém inventasse uma internet com toda a conexão, sem a distração, seria ótimo, mas isso não existe. O fato é que as pessoas precisam organizar o seu espaço mental para manterem o foco no que interessa. Muita gente critica os tablets dizendo que são piores que os aparelhos de leitura eletrônica, tipo e-readers, porque permitem que as pessoas façam várias atividades ao mesmo tempo, como ler e navegar na rede e, portanto, diminuiriam o prazer da leitura pura. Não concordo. Ainda assim, a distração é compensada pelos enormes benefícios. É claro que há uma sobrecarga de informações, mas eu, de um modo geral, me sinto mais capaz de captar e administrar muito mais informações do que há dez anos, e isso é um benefício. Seguir essas vozes diferentes em redes sociais ou por email ou mensagem instantânea, tudo isso me faz mais criativo no fim das contas. Até achar um livro, comprá-lo e lê-lo é hoje muito mais fácil e rápido, e isso é bom.

O GLOBO: Quais as dicas para se tornar mais inovador no seu dia a dia?

JOHNSON: Uma boa dica é anotar suas ideias num bloquinho e guardar aquilo, relendo-as de quando em quando. Uma ideia que você teve há um tempo pode nem fazer muito sentido, mas quatro anos depois, diante de uma nova realidade, ela pode ser uma ótima ideia.


Enquanto De Onde Vêm as Boas Ideais não chega, segue um breve resumo (retirados do site da editora) de seus outros livros cinco livros já publicados pela Zahar:

Cultura da Interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e comunicar
"Neste livro Johnson supera a tradicional divisão entre cultura e tecnologia ao retomar o cruzamento histórico desta com a arte. Além disso, mostra como a interface do ciberespaço influencia a vida moderna e reflete suas principais características. Inovando, Johnson compara o papel do design tecnológico ao dos romances do século XIX: tornar as mudanças da sociedade compreensíveis para quem as vive. A nova linguagem visual é apenas uma maneira de tornar mais acessível a complexa rede de informações ao nosso alcance."


Emergência: a dinâmica de rede em formigas, cérebros, cidades e softwares
Este é um livro fantástico, cuja leitura recomendo com ênfase. Foi melhor Livro do Ano da Esquire e Livro Notável do New York Times. "O que têm um comum um formigueiro, o cérebro humano, as cidades e os modernos softwares? Todos são exemplos de sistemas auto-organizados que privilegiam as sequências, em detrimento da lógica, e nos quais se dispensa a presença de um controle centralizado para haver ação. Surgem de um nível de elementos relativamente simples em direção a formas de comportamento mais sofisticados e por isso são chamados sistemas emergentes. Por meio de uma breve história de tais sistemas, Steven Johnson analisa pioneiros e pensadores que contribuíram para a construção dessa teoria, seja no terreno da biologia, da biofísica, do urbanismo ou do design de softwares. Além disso, esboça a gênese do comportamento emergente, que compreende desde crianças habilitadas para o controle mediado dos novos softwares até grupos de protesto que dispensam lideranças, a exemplo dos movimentos antiglobalização. Apoiado na analogia entre mundo biológico e cultural, o autor antecipa o que seria uma revolução interativa, na qual o controle da tecnologia mudaria das mãos dos engenheiros de softwares para os usuários dos sistemas."

O Mapa Fantasma: como a luta de dois homens contra o cólera mudou o destino de nossas metrópoles
"Londres, 28 de agosto de 1854. Este irresistível thriller científico conta a história de uma epidemia de cólera que se espalhou pelos arredores da cidade, matando mais de 500 pessoas em apenas dez dias. Dois homens iniciariam uma jornada em busca do mal causador da praga. Contra a mentalidade científica da época e a opinião geral, apontaram a água como o principal veículo transmissor. A partir de então, dejetos humanos e água potável passaram a seguir caminhos distintos. A descoberta mudou a história e possibilitou o desenvolvimento das grandes cidades."

De Cabeça Aberta: conhecendo o cérebro para entender a personalidade humana
"Numa mistura de reportagem, relato pessoal e pesquisa, Steven Johnson descreve como o cérebro humano funciona - suas substâncias químicas, estruturas e atividades de rotina - e como isso se relaciona com a nossa vida cotidiana. O autor acredita que aprender a respeito da mecânica cerebral pode aumentar nossa percepção sobre nós mesmos. Em De cabeça aberta, Johnson experimenta os conhecimentos em si próprio. Ele participa de uma bateria de testes de atenção, aprende a controlar um videogame alterando suas ondas cerebrais e submete seu cérebro a um exame de ressonância magnética funcional. Tudo em busca de uma resposta para uma das questões mais antigas da humanidade: quem sou eu? O autor ainda explica qual a química cerebral por trás do amor e do sexo e revela como interpretamos atos e sentimentos das pessoas com as quais convivemos."

A Invenção do Ar: uma saga de ciência, fé, revolução e o nascimento dos Estados Unidos
"Com prosa elegante e raciocínio arguto, o autor faz o link entre inovações do passado e revoluções do presente. Essa é uma saga que vai do interior da Inglaterra aos recém-criados Estados Unidos; de experimentos feitos na pia da cozinha a multidões enlouquecidas destruindo laboratórios; da celebração de um homem como cientista à sua execração como teólogo. Seguindo o modelo de seu best-seller O Mapa Fantasma, Johnson integra aqui a vida e os feitos do pensador britânico Joseph Priestley em uma extensa história. Gramático, divulgador científico, químico, físico, inventor, teólogo, teórico político, grande amigo de Benjamin Franklin e referência espiritual de Thomas Jefferson, Priestley – segundo o autor – é “a coisa mais próxima de um herói”. Ao descobrir que as plantas consomem gás carbônico e produzem oxigênio, esse “herói” do século XVIII não apenas ajudou a “inventar” o ar, como mudou a nossa forma de viver e pensar."

domingo, 7 de novembro de 2010

Diagnóstico do Setor Livreiro 2009

A Associação Nacional de Livrarias - ANL, vem realizando um louvável esforço, ano após ano, para levantar dados que permitam conhecer melhor o setor livreiro (as livrarias) no Brasil.

No Anuário Nacional de Livrarias relativo ao ano de 2008 foi usada a seguinte definição: "no conceito técnico de uma livraria, além da constituição da empresa registrada legalmente nos órgãos oficiais nesta atividade, também podemos considerar aquelas empresas que oferecem uma ampla variedade de livros, sob os mais diversos temas, em seu mix de produtos. Independente da empresa vender produtos como papelaria ou equipamentos eletrônicos, um bom acervo de livros já a caracteriza também como livraria."

Como no Anuário Nacional de Livrarias relativo ao ano de 2009 não existe nenhuma definição para livraria, parto do pressuposto que foi utilizada a mesma definição supra citada.

Nesta segunda pesquisa a ANL coletou, sistematizou e analisou dados de 2.980 livrarias. É esse, portanto, o número de livrarias no Brasil em 2009. A distribuição delas pelo país é a seguinte:

Distribuição geográfica das livrarias na comparação entre 2009 e 2006:
56% em 2009 no Sudeste; eram 53% em 2006
19% em 2009 no Sul; eram 15% em 2006
12% em 2009 no Nordeste; eram 20% em 2006
6% em 2009 no Centro-Oeste; eram 4% em 2006
4% em 2009 no DF; eram 3% em 2006
3% em 2009 no Norte; eram 5% em 2006

Chama a atenção a queda acentuada nos índices relativos à região Nordeste; queda foi de 20% para 12% em três anos.

Na distribuição das livrarias pelos 26 estados e DF temos os seguintes dados:
1° SP com 864
2° RJ com 298
3° MG com 268
4° RS com 238
5° PR com 178
6° BA e SC com 119
7° CE e GO com 95
8° DF com 90
9° MT e PE com 60
10° ES com 55
11° MA com 50
12° AM com 40
13° MS; PA e SE com 35
14° RN e PB com 34
15° AL e TO com 30
16° RO com 28
17° AC; PI e RR com 25
18° AP com 15

Uma relação interessante é a que resulta da divisão da população de um país pelo número de livrarias nele existentes. A relação ideal, segundo a UNESCO, seria de uma livraria para cada 10 mil hab. No Brasil a relação é de uma livraria para cada 64.255 hab. População do Brasil em 2009 era de 191.480.630 hab.

Nos estados e DF, na relação uma livraria para tantos mil habitantes, temos:
1° RR 16.859 hab/liv; total de 421.499 hab
2° AC 27.645 hab/liv; total de 691.132 hab
3° DF 28.965 hab/liv; total 2.606.885 hab
4° AP 41.773 hab/liv; total 626.609 hab
5° TO 43.068 hab/liv; total 1.292.051 hab
6° RS 45.857 hab/liv; total 10.914.128 hab
7° SP 47.898 hab/liv; total 41.384.039 hab
8° MT 50.028 hab/liv; total 3.001.692 hab
9° SC 51.418 hab/liv; total 6.118.743 hab
10° RO 53.711 hab/liv; total 1.503.928 hab
11° RJ 53.726 hab/liv; total 16.010.429 hab
12° SE 57.705 hab/liv; total 2.019.679 hab
13° PR 60.035 hab/liv; total 10.686.247 hab
14° GO 62.382 hab/liv; total 5.926.300 hab
15° ES 63.403 hab/liv; total 3.487.199 hab
16° MS 67.442 hab/liv; total 2.360.498 hab
17° MG 74.752 hab/liv; total 20.033.665 hab
18° AM 84.834 hab/liv; total 3.393.369 hab
19° CE 89.976 hab/liv; total 8.547.809 hab
20° RN 92.280 hab/liv; total 3.137.541 hab
21° AL 105.203 hab/liv; total 3.156.108 hab
22° PB 110.881 hab/liv; total 3.769.977 hab
23° BA 123.003 hab/liv; total 14.637.364 hab
24° PI 125.813 hab/liv; total 3.15.325 hab
25° MA 127.342 hab/liv; total 6.367.138 hab
26° PE 146.837 hab/liv; total 8.810.256 hab
27° PA 212.314 hab/liv; total 7.431.020 hab

Além de livros nacionais as livrarias brasileiras também vendem (total é maior que 100%, pois as livrarias vendem mais de um dos itens listados):
53% vendem CD e DVD
43% vendem livros imporatdos
34% vendem material de papelaria
32% vendem artigos religiosos
31% vendem presentes (o que será?)
24% vendem material de informática e eletrônicos
18% vendem brinquedos
10% vendem outras coisas
7% vendem livros usados e raros

A atividade livreira gerou 32.601 empregos permanentes e 6.055 empregos temporários em 2009. Leia mais sobre livrarias neste blog.

Para terminar, um dado importante e preocupante, pois somente 44% das livrarias vendem pela internet; 56% delas está fora desse canal de vendas, mais importante a cada ano. Leia mais sobre e-commerce neste blog

Leitura afim neste blog:
Mercado editorial brasileiro em 2009

domingo, 31 de outubro de 2010

É Possível Fraudar a Eleição?

Inicialmente peço desculpas aos leitores e seguidores do blog por usar este espaço, dedicado a assuntos relacionados ao livro, para falar de um outro. Se o faço, é porque julgo o assunto grave e não tenho outro meio de compartilhar o que aconteceu comigo.

Hoje fui votar no segundo turno da eleição presidencial por volta das 15:30h na cidade do Rio de Janeiro. Entreguei o documento de identidade, meu nome foi localizado na lista e, então, aconteceu o que eu não imaginava que pudesse acontecer: alguém tinha votado por mim!

Ressalto que o mais importante não é saber para quem foi feita a fraude, mas sim, saber que é possível fraudar o processo de votação. A questão é de princípios em primeiro lugar, de confiança no processo eleitoral como um todo.

Numa eleição em que seja possível um segundo turno, na lista de votação de cada seção eleitoral, logo abaixo do nome de cada eleitor, existem dois espaços para a assinatura do votante. No lado direito da folha existem os dois comprovantes de votação com um picote no meio, um para cada turno.

Votei no primeiro turno nesse mesmo local físico; aliás, voto lá desde sempre. Depois que meu nome foi localizado na lista de eleitores um dos integrantes da mesa, ao ver que já havia sido destacado o comprovante de votação e que existia uma assinatura na lista (na verdade somente uma rubrica), disse que eu já tinha votado. Surpreso, respondi que EU não tinha votado ainda. O presidente da seção então pediu o número do título para digitar no sistema que dá acesso à urna eletrônica. Sabe qual foi a resposta na tela? Que o número do meu título já constava como tendo votado. Eu vi isso escrito na tela. Para segurança do processo de votação, não é possível um título eleitoral ter mais de um voto registrado na urna eletrônica, o que é correto, é claro. Portanto, não pude votar via urna eletrônica. E também não foi possível votar em separado. Recebi um comprovante intitulado: DECLARAÇÃO DE COMPARECIMENTO SEM VOTO e a orientação de comparacer ao cartório eleitoral a partir do dia 04/11. O presidente da seção também fez o devido registro na Ata da seção explicando o caso.

O presidente da seção, aliás, demonstrou muito interesse em tentar entender o que estava acontecendo. Ele verificou se existia algum nome homônimo, se o meu comprovante tinha sido destacado no lugar de outro por engano, se aquela rubrica existia em algum outro nome da lista etc, mas nada. Depois dessa busca ele foi ao coordenador do local de votação comigo e expôs o caso. O coordenador ligou para outro local para ver se existia algum jeito de eu votar. Depois de desligar o celular disse que não seria possível votar (não ouvi o outro lado da conversa dele) e completou dizendo que nenhum sistema é "imune".

Tem um dado importante que ainda não mencionei. Na lista de votação não consta a minha assinatura na eleição do primeiro turno, mas eu votei, tenho o comprovante e mostrei-o na hora, pois estava comigo. Também vi, na hora em que o presidente da seção folheava a lista, que existiam outros nomes sem a assinatura referente ao primeiro turno e notei a seguinte diferença: em alguns estava escrito com caneta NC. Perguntei o que era isso às pessoas da seção e fui informado que era um controle deles e que queria dizer "não compareceu", no caso, no primeiro turno. E em outros, como no meu caso, o espaço para a assinatura estava em branco. É claro que eu não assinei no primeiro turno, não porque não quisesse fazê-lo, mas porque não me foi dada a lista para assinar, tenha sido com essa deliberada intenção ou por descuido mesmo, e eu não percebi esse detalhe naquele momento.

Saí da seção e fiquei por ali um bom tempo tentando encontrar algum sentido, alguma explicação para o que estava acontecendo, e cheguei à conclusão que é possível fraudar uma eleição mesmo com a urna eletrônica. A fraude não seria na urna em si; a fraude seria (é) realizada antes, no processo de votação, para o qual pensei as seguintes vulnerabilidades:

1-no primeiro turno, além da eleição presidencial, existe a eleição para mais quatro cargos (governador, senador, deputados federal e estadual); logo, existe uma "pressão" para que o processo seja o mais rápido possível. Portanto, fica fácil fazer com que algumas pessoas fiquem sem assinar na lista de eleitores, como foi o meu caso. E porquê é importante que a assinatura do primeiro turno esteja em branco, no caso de se querer fraudar a votação? Porque, na votação do segundo turno, que é bem mais rápida, com no máximo dois votos (presidente e governador), será mais difícil fazer com que alguém não assine a lista. O fraudador então, ao assinar na lista não teria essa falsa assinatura confrontada instantaneamente com a da linha acima. No meu caso aliás, não é nem uma assinatura que está lá na lista. É uma tosca rubrica começando com um J. Será que essa "assinatura" foi conferida com o documento que por ventura tenha sido apresentado?

Aliás, você leitor e eleitor, lembra de alguma votação sua em que alguém da seção verificou se a assinatura que você fez na lista de votação confere com a do documento que você entregou para sua identificação? Eu não consegui lembrar de nenhum caso em todas as votações de que já participei. Só é conferido o nome e a fotografia. E aqui, no caso da fotografia, vislumbrei outra vulnerabilidade do processo de votação, e que é o seguinte:

2-na minha carteira de identidade, assim como na de milhões de outras pessoas, a foto é colada, e não impressa de forma digitalizada. Portanto, é fácil tirá-la e/ou colar outra por cima. Assim, é possível fazer com que outra pessoa vote no seu lugar, tendo em vista que não é conferida a assinatura e é permitida uma rubrica como assinatura, conforme o relatado acima.

Agora só me resta ir no cartório eleitoral para ver o que será feito com relação ao caso acima e, depois, completarei este post. E ainda não me conformo de não ter podido votar!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

E-commerce em alta no Brasil

O e-commerce no Brasil cresceu 40% no período de janeiro a junho de 2010 na comparação com o mesmo período em 2009. O tíquete médio foi de R$ 379,00 e o faturamento atingiu R$ 6,7 bilhões. Esta é a principal informação que consta da 22ª edição do WebShoppers.

O WebShoppers utiliza informações, capturadas pela e-bit, provenientes de 2.500 lojas virtuais. Esses dados são coletados dos e-consumidores logo depois das suas compras (eu já respondi esses questionários várias vezes).



Por falar em e-consumidores, chegou-se ao número de 20 milhões de pessoas que compraram pela internet ao menos uma vez, até o fim do 1º semestre de 2010. Para medir a importância desse número, em maio de 2010, a comScore apurou 35.888.000 (35,88 milhões) de pessoas, com idade de 15 anos ou mais, que acessaram a internet como visitantes únicos (se você acessou todo dia, só foi contado como uma única visita, um único visitante) de casa ou do trabalho. Não foi computada a visitação de computadores públicos como em universidades, cyber-cafés, ou acessos por telefones celulares ou PDA’s.

A comScore apurou o acesso também por faixa etária, e que é o seguinte:
de 15 a 24 anos: 10,421 milhões
de 25 a 34 anos: 12,408 milhões
de 35 a 44 anos: 7,641 milhões
de 45 a 54 anos: 3,782 milhões
de 55 pra cima : 1,636 milhões

Como curiosidade, mas que não utilizei pois ainda não podem comprar por eles mesmos, a comScore também apurou que na faixa etária de 6 a 14 anos, existem no Brasil 4,825 milhões de pessoas (crianças) com acesso à internet.

Portanto, 20 milhões de e-consumidores representa 55,74% dos 35,88 milhões de potenciais compradores. E ambos os números crescem a cada semestre.

Com relação às categorias de produtos mais vendidas no 1º semestre de 2010, o resultado foi o seguinte:
1º LIVROS e assinaturas de jornais e revistas
2º eletrodomésticos
3º saúde, beleza e medicamentos
4º informática
5º eletrônicos

A Associação Nacional de Livrarias - ANL divulgou recentemente que 44% das livrarias brasileiras vendem pela internet. Enquanto as outras 56% não entram, empresas que não são originalmente livrarias vão ocupando esse espaço. E, na verdade, não são pequenos players que gostam, cada vez mais, de vender livros pela internet. E por que será que:
Americanas
Compra Fácil
Extra
Lojas Colombo
Ponto Frio
Safari Shop
Submarino
Wal-Mart
e em breve É Fácil, além do Ricardo Eletro, querem vender livros pela internet?

domingo, 19 de setembro de 2010

Nota Fiscal Eletrônica e seu Impacto no Mercado Editorial e Livreiro

Preparava um post para este blog sobre a implementação da Nota Fiscal Eletrônica ou NF-e, quando recebi um convite do Gerson Ramos para que desse uma entrevista para a Revista da SuperpedidoTecmedd. Convite aceito, o Celso de Campos Jr. ligou, conversamos bastante, passei algumas anotações, e o ótimo e esclarecedor texto do Celso, com a devida autorização para ser reproduzido aqui, segue abaixo.


"Caros leitores-livreiros, circulem em sua folhinha, com caneta vermelha, o dia 1° de dezembro de 2010 – seu negócio passará por uma grande transformação a partir desta data. Nesse dia, por um dispositivo legal, editoras e distribuidoras passarão a ser obrigadas a emitir exclusivamente notas fiscais eletrônicas para suas operações. É o dia oficial da extinção da nota fiscal em papel, portanto, do lado de editoras e distribuidoras. Parece pouco? Nada disso. Ainda que as livrarias, ao menos por enquanto, não precisem igualmente aderir ao regime de emissão da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), e possam continuar a emitir as tradicionais notas fiscais do talão, a mudança terá impacto direto no varejo, como os senhores poderão ver ao longo das próximas páginas.

Um aviso importante, antes de seguirmos em frente: a alteração do processo de emissão da nota fiscal de papel para o modo eletrônico não modifica em nada as regras vigentes na legislação, no tocante, por exemplo, ao recolhimento de impostos, ao regulamento do ICMS, nem mesmo ao processo de consignação. Na teoria, portanto, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes; na prática, porém, os alicerces da prática comercial entre editoras e distribuidoras e livrarias serão sensivelmente alterados.

Com a Nota Fiscal Eletrônica, o governo passa a ter um controle automático e instantâneo sobre as transações comerciais – sem depender da fiscalização física nas empresas, à moda antiga, com os fiscais revirando armários para tentar descobrir algo errado. Agora, a fiscalização está a um clique de distância: o sistema gera para a Receita imediatamente, em tempo real, um relatório completo de quem está fazendo o quê, e como.

Para o mercado do livro, que, a bem da verdade, nunca recebeu da Receita uma grande atenção – já que o livro, por ser imune de IPI e ICMS, não gerava arrecadação –, a mudança para a NF-e deve despertar atenção. Mais do que isso, a obrigação de seguir ao pé da letra, a partir de agora, todas as regras da legislação, para evitar problemas contábeis e/ou situações indesejadas com a fiscalização.

Consignação

Enraizado no mercado livreiro, o processo da consignação também não sofreu alterações em termos de legislação com a chegada da Nota Fiscal Eletrônica – mas a adoção da NF-e poderá abalar assustadoramente suas estruturas, ao implicar em um aumento significativo de trabalho para todos os lados envolvidos nessa prática.

Até agora, como é do conhecimento e da rotina da maioria dos leitores-livreiros, a prática da consignação funcionava da seguinte maneira: o cliente recebia os livros consignados – novidades e fundo de catálogo – e fazia várias reposições ao longo do mês. Conforme o combinado com cada livreiro, era passado um acerto semanal, quinzenal ou mensal – uma simples relação por e-mail, fax ou telefone, e na editora ou distribuidora se lançava o acerto. Era costume deixar de lado dois aspectos exigidos pela legislação: a emissão da nota fiscal de devolução simbólica e, nelas, a identificação da referência às notas fiscais de consignação recebidas.

Pois agora, com a NF-e, tudo isso será obrigatório, inescapável. Resumindo, então, em quatro passos:

1- O cliente precisa emitir a Nota Fiscal de Devolução Simbólica para o acerto da consignação, seja preenchida à mão ou por sistema eletrônico.
2- Essas notas fiscais devem trazer a referência às notas fiscais de consignação recebidas.
3-A Nota Fiscal de Devolução Simbólica tem de estar totalmente correta, isto é, títulos, exemplares e preços têm que estar precisos. Se um preço estiver errado, ou um título estiver com [quantidade maior a ser faturada do que realmente está consignada, essa nota terá que ser cancelada pelo cliente e outra deverá ser emitida].
4- Para as devoluções de consignação, as notas fiscais também têm que estar referenciadas com as notas fiscais de consignação recebidas.

Jaime Mendes, gerente comercial da Zahar – que desde 1º de junho de 2010 já trabalha com notas fiscais eletrônicas –, acredita que a adoção obrigatória da NF-e provocará mudanças definitivas nas relações entre os elos do mercado editorial e livreiro. “A parte mais afetada será a prática da consignação, pois vai gerar um trabalho imenso e economicamente inviável de ser realizado pelas editoras. A editora terá que diminuir a quantidade de clientes atendidos diretamente. A alternativa é que passem a ser atendidos pelos distribuidores estaduais ou nacionais. A escolha é de cada livraria”, explica.

Modus operandi

Como exemplo do volume de trabalho que será exigido para adequar a consignação às notas fiscais eletrônicas, vejamos as etapas que a Zahar adotou, com base nesses meses iniciais de experiência, antes de fazer um acerto de consignação.

1- O cliente informa os títulos a serem acertados, como anteriormente.
2- Na editora, é feito um lançamento no sistema para identificar os títulos e exemplares que podem ou não ser faturados, além de conferir os preços.
3- Gera-se um arquivo TXT que é transformado em Excel e enviado por e-mail para que o cliente possa emitir a Nota Fiscal de Devolução Simbólica com os títulos, quantidades e preços corretos.
4- O cliente então deve emitir essas Notas Fiscais de Devolução Simbólica e enviá-las para a editora, seja por e-mail, fax ou correio. (É impossível, portanto, prever o tempo que as notas levarão para a chegar à editora.)
5- A editora dá entrada novamente e confere se o que está escrito ou impresso está correto com o que foi checado anteriormente – Jaime relata que, mesmo com a emissão do arquivo, a editora já recebeu várias notas erradas.
6- Se o cliente usar a nota fiscal de preenchimento manual ou sistema informatizado que usa um número de nota fiscal para cada formulário, serão emitidas muitas notas fiscais de devolução simbólica para um acerto de consignação.
7- O acerto de consignação precisa ser feito nota a nota; portanto, será gerado um boleto de cobrança bancária para cada nota de acerto, o que aumenta em muito os custos de cobrança bancária, que hoje são assumidos pela editora. Existirão casos de mais de 20 boletos para um acerto de consignação.

Outra questão: toda vez que ocorrer alteração de preços, as consignações precisam ser zeradas para serem refeitas com os novos preços. Basta dar uma olhada na quantidade de títulos em consignação no estoque da maioria das livrarias para se ter uma ideia do volume de trabalho necessário para realizar tal empreitada.

Modernização

Com tantos comentários sobre as mudanças e o aumento de trabalho no tocante à consignação, o observador mais desavisado pode pensar que cá estamos a criticar a adoção da Nota Fiscal Eletrônica. Obviamente, não é isso. Trata-se de parte do irreversível processo de modernização das relações comerciais, que, se no início pode vir acompanhado de um certo bater de cabeças, por certo traz inúmeros benefícios para todos os lados. A tendência é que, aos poucos, todo o comércio seja obrigado a adotar a NF-e – inclusive, claro, as livrarias. Por isso é bom se manter sempre atualizado.

Estudioso do mercado editorial e livreiro, Jaime Mendes, da Zahar, acredita que o benefício do novo sistema supera e muito simplesmente a agilização das operações contábeis. “A Nota Fiscal Eletrônica vai obrigar o mercado a se profissionalizar um pouquinho. Somos ainda muito informais”, diz ele. “E também, espero, mude um pouco a situação da consignação: do jeito que está, vai enterrar todo mundo. Era para ser algo esporádico, mas se tornou a base do negócio da maioria das livrarias, e isso acarreta uma série de problemas. Não estimula ter bons profissionais no mercado e gera uma perda na capacidade de vender”, conclui.


BOX

Tudo sobre a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e)

O que é?
Documento de existência apenas digital, emitido e armazenado eletronicamente, com o intuito de documentar, para fins fiscais, uma operação de circulação de mercadorias ou uma prestação de serviços. Sua validade jurídica é garantida pela assinatura digital do remetente (garantia de autoria e de integridade) e pela recepção, pelo Fisco, do documento eletrônico, antes da ocorrência do Fato Gerador.

Quem precisa emitir (e quando)?
A Nota Fiscal Eletrônica tem validade em todos os Estados da Federação e já é uma realidade na legislação brasileira desde outubro de 2005. Em 2009, o protocolo ICMS 42/09 estabeleceu a obrigatoriedade da utilização da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) em substituição à Nota Fiscal, modelo 1 ou 1-A, pelo critério de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e operações com os destinatários que especifica, para uma série de operações.
O início da vigência dessa obrigatoriedade foi determinado para 1º de dezembro de 2010, de acordo com o protocolo Confaz/ICMS 83 (de 25 de julho de 2010). Entre elas estão: 1811-3/02 (impressão de livros, revistas e outras publicações periódicas), 4618-4/03 (representantes comerciais e agentes do comercio de jornais, revistas e outras publicações) e 4647-8/02 (comércio atacadista de livros, jornais e outras publicações).
Empresas com o CNAE 4761-0/01 (comércio varejista de livros), até o momento, não dispõem de prazo para aderir ao regime da Nota Fiscal Eletrônica.

Penalidades
Quando a legislação determina a emissão de um documento, independentemente de qual seja ele, a emissão de qualquer outro documento não tem validade. Assim, se a empresa deixar de emitir a nota fiscal eletrônica, emitindo em seu lugar a nota modelo 1 e 1A, será como se não tivesse emitido nota fiscal alguma. A penalidade, nesses casos, se enquadra na punição por falta de emissão de um documento exigido pelo Fisco; cada estado institui a punição para as empresas.
Em São Paulo, caso o Fisco se depare com mercadorias sendo entregues sem emissão de NF-e, a multa é de 50% do valor da operação. Supondo que o fiscal pare o caminhão que transporta as mercadorias da empresa, a mesma multa é aplicada. As mercadorias podem ser apreendidas até que a operação seja regularizada. A não-emissão de NF-e traz problemas também para os clientes, e não somente aos fornecedores; eles podem ter que pagar uma multa de valor equivalente a 50% da operação.

Vantagens

Para os vendedores
- Redução de custos de impressão do documento fiscal, já que o documento é emitido eletronicamente. O modelo da NF-e contempla a impressão de um documento em papel, chamado de Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica (DANFE), cuja função é acompanhar o trânsito das mercadorias ou facilitar a consulta da respectiva NF-e na internet. Apesar de ainda haver, portanto, a impressão de um documento em papel, deve-se notar que este pode ser impresso em papel comum A4 (exceto papel jornal), geralmente em apenas uma via.
- Redução de custos de aquisição NF em formulário de papel, pelos mesmos motivos expostos acima.
- Redução de custos de armazenagem de documentos fiscais.
- Simplificação de obrigações acessórias. Inicialmente a NF-e prevê dispensa de Autorização de Impressão de Documentos Fiscais – AIDF. No futuro outras obrigações acessórias poderão ser simplificadas ou eliminadas com a adoção da NF-e.

Para os compradores
- Eliminação de digitação de notas fiscais na recepção de mercadorias, uma vez que poderá adaptar seus sistemas para extrair as informações, já digitais, do documento eletrônico recebido. Isso pode representar redução de custos de mão-de-obra para efetuar a digitação, bem como a redução de possíveis erros de digitação de informações.
- Planejamento de logística de recepção de mercadorias pelo conhecimento antecipado da informação da NF-e, pois a previsibilidade das mercadorias a caminho permitirá prévia conferência da Nota Fiscal com o pedido, quantidade e preço, permitindo, além de outros benefícios, o uso racional de docas e áreas de estacionamento para caminhões.
- Redução de erros de escrituração devido à eliminação de erros de digitação de notas fiscais.

Para o fisco
- Aumento na confiabilidade da Nota Fiscal.
- Melhoria no processo de controle fiscal, possibilitando um melhor intercâmbio e compartilhamento de informações entre os fiscos.
- Redução de custos no processo de controle das notas fiscais capturadas pela fiscalização de mercadorias em trânsito.
- Diminuição da sonegação e aumento da arrecadação sem aumento de carga tributária."

domingo, 29 de agosto de 2010

Mercado Editorial Brasileiro em 2009

A Pesquisa "Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro" vem sendo realizada desde 1990, e é patrocinada pela CBL-Câmara Brasileira do Livro e pelo SNEL-Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Desde 2007 tem sido executada pela FIPE-Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP. A divulgação dos dados relativos ao ano de 2009 foi feita dia 19/8, durante a realização da 21a Bienal Internacional do Livro de São Paulo.

Um dado da pesquisa que merece logo ser destacado é que o preço médio de venda do livro para mercado, que já vinha caindo desde 2004, manteve esse processo e ficou mais barato 3,52% em relação ao ano de 2008. O valor do preço médio é o valor líquido que entrou para o caixa das editoras: R$ 11,52 em 2008 e R$ 11,11 em 2009.

Pelas características da comercialização no mercado do livro, existe uma escala de descontos de 50% para os distribuidores e redes (estas são distribuidoras para as suas próprias lojas), e depois dos distribuidores para as livrarias com variação entre 30% e 40%. Assim, o preço de capa médio foi de R$ 22,22 e o preço médio de venda para o público ficou entre R$ 15,55 (desconto nos lançamentos, por exemplo) e R$ 22,22.


01-Faturamento
Com relação à venda, a divisão é feita entre Mercado e Governo (que são os programas de compras de livros dos três níveis de governo: federal, estadual e municipal).

O faturamento total (mercado+governo) foi:
em 2008, R$ 3.305.957.488,25 (três bilhões, trezentos e cinco milhões...).
em 2009, R$ 3.376.240.854,19 (três bilhões, trezentos e setenta e seis milhões...).
Portanto, foram R$ 70.283.365,94 (70 milhões) a mais em 2009, o que equivale a uma variação de +2,13% em termos nominais. Ao aplicar-se o índice de deflação de 6,13% do IPCA educação, papelaria e leitura, que é calculado pelo IBGE, o valor em termos reais seria negativo em 3,77%.

Por segmento, o faturamento em 2009 foi o seguinte:
mercado: R$ 2.541.526.526,47 ou 75,28% do faturamento total
governo: R$ 834.714.337,72 ou 24,72% do faturamento total

É claro que são números grandes. Mas, o que esses números representam dentro da economia brasileira? O tamanho da economia de um país é calculado pelo PIB-Produto Interno Bruto, que vem a ser o principal indicador da atividade econômica. O PIB exprime o valor da produção realizada dentro das fronteiras geográficas de um país, num determinado período, independentemente da nacionalidade das unidades produtoras. Em outras palavras, o PIB sintetiza o resultado final da atividade produtiva, expressando monetariamente a produção, sem duplicações, de todos os produtores residentes nos limites da nação avaliada. A soma dos valores é feita com base nos preços finais de mercado. A produção da economia informal não é computada no cálculo do PIB nacional.
A fórmula para se chegar ao valor do Produto Interno Bruto é:
PIB = C + I + G + NX onde,
C = Consumo
I = Investimento
G = Despesa do Governo
NX = Exportações Líquidas
Consumo: refere-se a todos os bens e serviços comprados pela população. Divide-se em três subcategorias: bens não-duráveis, bens duráveis e serviços;
Investimento: consiste nos bens adquiridos para uso futuro. Essa categoria divide-se em duas subcategorias: investimento fixo das empresas (formação bruta de capital fixo) e variação de estoques;
Despesa do Governo: inclui os bens ou serviços adquiridos pelos governos Federal, Estadual ou Municipal;
Exportações Líquidas: trata-se da diferença entre exportações e importações.

O IBGE divulgou que o PIB do Brasil em 2009 foi de R$ 3,143 trilhões: R$ 3.143.000.000.000,00
Com estes números, o mercado do livro no Brasil representa 0,11% do PIB, que é o mesmo valor percentual apurado em 2008.


02-Exemplares comercializados
Outra maneira de olhar os dados é pela quantidade total (mercado+governo) de exemplares vendidos no ano:
em 2008 foram 333.264.519 exs
em 2009 foram 370.938.509 exs
Tem-se uma variação de +11,30% no aumento de exemplares vendidos. Na segmentação, foram vendidos para:
mercado, 228.704.28 ou 61,65% do total
governo, 142.234.221 ou 38,35% do total

O IBGE estimou que em 2009 havia no Brasil 191,5 milhões de habitantes. Dividindo-se os exemplares pela população, cada habitante teria ficado com quase 2 livros (1,94). Se fizermos a conta somente com os exemplares vendidos para mercado, cada habitante teria comprado em todo o ano o incrível número de 1,19 (um vírgula dezenove) livro.


03-Segmentos do mercado do livro
Como o mercado editorial é bem diverso, a pesquisa divide-o em quatro grandes grupos para melhor conhecê-lo:
1-Didáticos
2-Obras Gerais
3-Religiosos
4-CTP-Científicos, Técnicos, Profissionais

A representatividade de cada grupo em faturamento e em exemplares, somente para mercado, é a seguinte:
Didáticos
40,56% do faturamento e 36,87% dos exemplares

Obras Gerais
26,91% do faturamento e 27,45% dos exemplares

Religiosos
12,58% do faturamento e 23,20% dos exemplares

CTP-Científicos, Técnicos e Profissionais
19,95% do faturamento e 12,48% dos exemplares


04-Novos títulos
Com relação a títulos novos no mercado, em 2009 foram lançados em 1ª edição 22.027 títulos, o que é um aumento de 14,88% em relação ao ano de 2008.

Destes 22.027 novos títulos, 5.807 foram títulos traduzidos, o que representa 26,36% dos títulos. Logo, 73,64% dos títulos lançados foram originais nacionais.

O ano, em termos nacionais, tem 249 dias úteis [365 - 104 (sáb + dom) - 12 (feriados nac.)]. Portanto, teve-se uma média de 88 novos títulos por dia no mercado.

O crescimento expressivo no número de lançamentos tem como consequência o aumento da oferta de títulos e também de novos autores. É a busca das editoras para encontrar o best-seller e/ou o long-seller, garantindo também a bibliodiverdidade no mercado.


05-Canais de comercialização para mercado
A participação percentual de cada um deles é a seguinte:
40,18% livrarias físicas, incluso o braço web
23,78% distribuidores
16,64% porta-a-porta
2,91% supermercado
2,32% igrejas e templos
2,26% "livrarias" somente virtuais
1,68% escolas e colégios
1,41% editoras via web
0,85% empresas
0,75% feiras do livro
0,51% bancas de jornal
0,25% marketing direto
0,10% venda conjunta com jornais
0,04% bibliotecas privadas
6,32% outros

A destacar aqui a aumento mais uma vez da venda porta-a-porta que era 13,66% em 2008 e passou para 16,64% em 2009.

Destaque também para a venda pela web, pelo menos do que pode ser mensurado, que já representa 3,67% (2,26+1,41), sendo o quarto canal em vendas. Sabe-se que a venda pela web nas redes de livrarias físicas é muito significativa, girando entre 15% e 20% das suas vendas totais. Portanto, as livrarias que ainda não vendem pela web estão, a cada ano, aumentando o seu risco de serem excluídas do mercado. E, com a chegada do livro digital, do e-book, a situação só vai se agravar.

Mais uns dados como sinal de alerta às livrarias. Houve queda na participação do canal livrarias de 45,64% em 2008 para 42,44% em 2009. Queda também no canal distribuidores, de 25,32% em 2008 para 23,78% em 2009.

sábado, 14 de agosto de 2010

Lei de Direito Autoral: direitos de autor

Está em consulta pública até o dia 31 de agosto de 2010 a minuta do Anteprojeto que altera a Lei 9.610 de 19.02.1998, a Lei de Direito Autoral. O Art. 22, que não será alterado, dispõe que "Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou."

O Art. 5, define 15 itens e destaco dois para este post:
I – publicação – o oferecimento de obra literária, artística ou científica ao conhecimento do público, com o consentimento do autor, ou de qualquer outro titular de direito de autor, por qualquer forma ou processo;

XI – editor – a pessoa física ou jurídica à qual se atribui o direito exclusivo de reprodução da obra e o dever de divulgá-la, nos limites previstos no contrato de edição;

Portanto, deve existir entre o autor e o editor um contrato. O Art. 53 dispõe que: "Mediante contrato de edição, o editor, obrigando-se a reproduzir e a divulgar a obra literária, artística ou científica, fica autorizado, em caráter de exclusividade e em atendimento aos legítimos interesses do autor, a publicá-la e a explorá-la pelo prazo e nas condições pactuadas com o autor.

§ 1º O contrato de edição não poderá conter cláusula de cessão dos direitos patrimoniais do autor."

Será nesse contrato entre editora e autor, ou detentor dos direitos de autor, que serão definidas as regras. No mercado editorial, o pagamento dos direitos autorais estipulados em contrato, são um percentual do preço de capa do livro.

Com as devidas exceções, como no caso do livro didático e de autores que são best-sellers nas suas áreas e, portanto, podem negociar um percentual maior, o valor do direito autoral mais comum é de 10% sobre o preço de capa. Talvez fique a impressão, então, que os outros 90% do valor de capa do livro fiquem com a editora, o que não é verdade, é claro. Explicação vem mais abaixo.

O livro, para além de todo o simbolismo que representa, também é um produto comercializável. Entretanto, na questão da precificação e na cadeia de descontos, ele é quase que único. Seu preço de venda ao consumidor final não vem impresso como no caso dos jornais e revistas, mas é extremamente comum que seja seguido por todas as livrarias. Eventualmente algumas delas podem vender os livros com algum desconto sobre esse preço de capa. Vender por um preço superior ao chamado preço de capa é prática desconhecida, mesmo quando o livro é best-seller ou quando está em falta ou esgotado. As "leis" básicas que regem a oferta e procura não se aplicam à comercialização do livro.

Se pensarmos nos milhares de produtos que diariamente estão à venda em supermercados, papelarias e em todas as outras lojas voltadas para o comércio de produtos, vê-se que produtos iguais são vendidos por preços diferentes, de acordo com a estratégia comercial do lojista. A base para a precificação desses produtos são os custos fixos da empresa como aluguel, instalações, funcionários, impostos, dentre outros, mais os custos dos produtos em si, além da margem de rentabilidade desejada pelo lojista. Esse preço final para o consumidor também é influenciado pela concorrência que existe entre os estabelecimentos comerciais de um mesmo segmento e/ou área geográfica. Por exemplo, se uma papelaria compra de um distribuidor uma caneta ao custo unitário de R$ 0,40 (quarenta centavos), esse lojista é quem vai determinar o preço de venda ao consumidor final, que pode ser de R$ 0,80, R$ 1,00 ou mais. Neste exemplo parte-se do custo e calcula-se um percentual em cima dele até chegar ao preço de venda ao consumidor final.

No caso do livro, acontece ao contrário; a precificação, o preço de venda ao consumidor final, é determinado pela editora, de tal forma que uma série de descontos dentro da cadeia de comercialização possa viabilizar o negócio como um todo. A cadeia básica de comercialização do livro é a seguinte: editora; distribuidora/redes; livraria; consumidor final.

Em todo o produto comercializável, seja um livro, um automóvel, um remédio, um alimento etc, etc, normalmente existe uma cadeia de comercialização desse produto até que ele chegue ao consumidor final. Isto acontece, e desde sempre, pois o "produtor" precisa dessa cadeia para atingir o maior número possível de consumidores espalhados dentro da área geográfica de uma cidade, de um estado, de um país, de um continente, mas neste único planeta, por enquanto.

A precificação do livro por parte da editora nada mais é que determinar, a partir de todos os custos envolvidos na publicação de um título, qual o valor unitário por exemplar que ela precisa receber para que o negócio da publicação daquele título seja economicamente viável. Se a editora chega ao valor de R$ 20,00 como preço de capa do livro, isto é, o preço de venda ao consumidor final, é em cima desse preço que acontecem os descontos para a remuneração do trabalho das outras partes da cadeia do livro. Essa cadeia é fundamental para a existência de um mercado do livro. Portanto, o distribuidor precisa ficar com uma parte desse valor de capa para que possa desempenhar sua função, que é a de fazer chegar o livro às livrarias espalhadas por todo o Brasil. Com a chegada do livro na livraria, o livreiro precisa ficar com outra parte para poder desempenhar sua função, que é a de manter uma livraria onde o consumidor final possa ir comprar o livro de seu interesse.

Os descontos mais comuns praticados dentro da cadeia são:
a editora vende com 50% de desconto sobre o preço de capa para o distribuidor;
o distribuidor vende com 30% a 40% de desconto sobre o preço de capa para a livraria;
a livraria vende com até 20% de desconto sobre o preço de capa para o consumidor final.

Voltando ao preço de capa de R$ 20,00 e ao direito autoral de 10% sobre o preço de capa, o autor, por cada exemplar vendido, receberia R$ 2,00 (dois reais). Como a editora vendeu com 50% de desconto sobre o preço de capa de R$ 20,00, a editora vai receber R$ 10,00 (dez reais) por cada exemplar vendido. Logo, com uma continha percentual simples, percebe-se que o autor recebe 20% do valor que ficou com a editora (R$ 2,00 são 20% de R$ 10,00). Fica claro então que nem o autor recebe tão pouco como se pensa, e nem a editora fica com tanto, como também se pensa. Detalhando mais um pouco, esses R$ 8,00 que ficam com a editora têm que ser suficientes para pagar os custos fixos de uma empresa (instalações, funcionários e impostos), os custos da produção do livro em si, o custo dos livros que não deram certo comercialmente, além de ter que sobrar algum dinheiro para remunerar e reinvestir no negócio denominado editora. Como qualquer outra empresa comercial privada, uma editora é um negócio, e negócio, necessariamente, envolve riscos.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Saiu na mídia #3 Pequena livraria sai da crise com ajuda da internet

Já escrevi em vários posts sobre a necessidade das livrarias físicas, principalmente as pequenas, também terem e-commerce, além de fazerem uso das várias midias sociais existentes. A matéria a seguir prova que, além de ser fundamental para a manutenção do negócio livraria, é possível, sim. É só querer e ter a mente aberta para as oportunidades que estão ao redor.

Artigo de John Brant, da INC.
Publicado na revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios n. 257 de junho/2010


A Broadway Books, em Portland, estava prestes a fechar as portas, vítima da crise econômica americana. Até que o Twitter e a blogosfera surgiram em seu socorro, provando que as novas tecnologias podem, sim, resgatar velhos modelos de negócio
Por John Brant, da INC.

Em janeiro de 2009, a crise econômica mostrava sua face mais opressiva. Por toda parte, o que se via eram negócios fechando as portas e funcionários antigos perdendo seus empregos. Era um fim de tarde quando parei na livraria do meu bairro em Portland, estado de Oregon, para pegar alguns livros que minha mulher precisava para um curso. Eu era o único cliente. O silêncio parecia assustador. "Como vão as coisas?", perguntei à proprietária, Roberta Dyer, enquanto ela recebia o meu pagamento. Eu era um cliente habitual da Broadway Books havia mais de uma década, mas há meses não entrava na loja. Roberta fez uma pausa antes de responder, e imaginei o pior. "Nosso ano foi péssimo", admitiu. "Mas, em dezembro, aconteceu um milagre."

Há 17 anos, Roberta enfrentava com coragem o desafio de manter a loja aberta, mesmo diante da concorrência das franquias e das livrarias on-line. Nunca pensei nela como alguém que acreditasse em milagres. Por isso, ao ouvir sua resposta, imaginei que ela ainda estivesse abalada pelos fatos do ano anterior. Qualquer que fosse o golpe de sorte que havia salvado a livraria - uma herança de família, uma doação de um cliente ou outro fato inesperado - , o mais provável era que ainda estivesse muito emocionada para pensar claramente.

Eu estava enganado. A história que ela me contou a seguir era absolutamente surpreendente. Não é todo dia que as novas tecnologias, consideradas as destruidoras das antigas tradições, colaboram para manter de pé dois pilares da velha cultura - os livros e a tradicional loja de bairro, comandada pelo dono. (grifo meu) Mas não era só isso. O que eu ouvi de Roberta Dyer era uma história sobre uma mãe e um filho que se conectaram, apesar de sua diferença de gerações; sobre blogs, burritos e tempestades de neve; e sobre o poder de resistência quase místico das pequenas empresas locais. Só o cético mais insensível não chamaria aquilo de milagre.

Tudo começou na manhã de 8 de dezembro de 2008, durante a temporada de compras de fim de ano, quando a Broadway Books normalmente alcança 25% de suas vendas anuais. Sentada atrás do balcão de sua livraria vazia, cercada de pilhas de livros não vendidos, Roberta percebeu que o seu faturamento estava prestes a desabar. Ela havia aberto a livraria em 1992, depois de passar duas décadas trabalhando para uma loja de departamentos. Quando eu me mudei para o bairro, no ano seguinte, a Broadway Books já estava estabelecida. Era pra lá que os moradores do bairro se dirigiam quando queriam encontrar um bom livro.

Foi assim até setembro do ano passado. Mas aí tudo mudou. "Comecei a ver um olhar triste nas pessoas", lembra Roberta. "Era como se elas tivessem perdido a fé nas coisas mais básicas. Ninguém comprava mais nada nas lojas do bairro." Os meses de outubro e novembro foram igualmente sombrios. Diante dos maus resultados do início de dezembro, Roberta começou a perder a fé: talvez fosse mesmo hora de fechar as portas. Antes de tomar qualquer decisão, porém, decidiu ligar para o filho. Precisava dizer a ele que não encontrara aquele livro de música encomendado havia alguns meses. Mas, acima de tudo, precisava ouvir a voz do único filho. Aaron Durand, de 28 anos, estava em seu trabalho, numa empresa de calçados Birkenstock USA em Novato, na Califórnia, quando recebeu a ligação.

"Não consegui aquele livro para você", disse ela. "Tudo bem", respondeu o filho. "Não tenho pressa." Ela insistiu. "Você não entendeu, eu não posso te ajudar. Meus distribuidores não trabalham com essa editora. Você vai ter de entrar on-line, fuçar um pouco e encomendar o livro." Estranhando o tom desanimado da mãe, Aaron perguntou: "Está tudo bem com você?". Ela disse apenas: "Sinto muito, filho, não posso te ajudar". Encafifado, Aaron mandou um e-mail para o pai. "O que está acontecendo com a mamãe?" Foi David Durand quem deu a notícia ao filho: a Broadway Books ia fechar suas portas.

Aaron ficou atônito. Ele tinha 12 anos quando sua mãe abriu a loja. Roberta era tão dedicada à livraria que a família costumava dizer que ela era sua filha. Perdê-la seria um golpe terrível. Sem pensar, Aaron abriu o laptop, entrou em sua página no Twitter e começou a digitar: "Se você estiver em Portland, pode me fazer um favor? Compre um livro na Broadway Books. Não, espere, compre 3...". Ele costumava entrar no Twitter para contar aos amigos que música estava escutando ou falar sobre minigolfe. Mas, naquele momento, as palavras vieram com mais força. Aaron teve uma inspiração, e completou: "...e eu lhe pagarei um burrito na próxima vez que for à cidade", digitou.

Durand e seus amigos usavam burritos (o famoso prato mexicano) como um código. Era mais simpático dizer: "Eu te pago um burrito", do que: "Eu te devo 5 dólares". Ele não sabia por que havia associado os burritos às dificuldades de sua mãe, mas gostou do resultado final. Depois, decidiu que seu blog, chamado Everydaydude, também precisava entrar nessa batalha. O site recebia pouco mais de 20 acessos por mês, mas ainda era a melhor ferramenta que ele tinha à disposição. Naquele dia, escreveu: "A loucura que é a nossa situação econômica não estava me incomodando. O dono da empresa onde eu trabalho havia dito que não ia demitir ninguém. Não tenho ações, nem sequer sei como comprá-las. Vivo um dia de cada vez e gosto que seja assim. Então, foi preciso levar um tapa na cara para acordar. Isso aconteceu comigo ontem, e eu despertei."

Aaron continuou digitando, contando a história da mãe e explicando a importância da Broadway Books, tanto para a comunidade de Portland quanto para Roberta. Contou como havia descoberto que a loja estava em dificuldade. Confessou que quase havia chorado, mas disse que o desespero havia sido substituído pela raiva, e finalmente por uma decisão. "Então, vai ser assim. Vou estar em Portland de 15 a 19 de janeiro de 2009. Encontrem-me no Cha Cha Cha, no dia 16 de janeiro, às seis da tarde. Se você tiver um recibo da Broadway Books de mais de US$ 50, eu te pagarei um burrito. Passe isto adiante. Ganhe um burrito grátis! Apoie as empresas locais! Saia da internet!" Aaron fez uma pausa. Ele não era um escritor, mas sabia que seu texto precisava de um final atraente. "As dificuldades econômicas vão desaparecer. Se você acha isso impossível, tente ver as coisas com mais otimismo. Essa é uma virtude que aprendi com a minha mãe."

Depois de postar a mensagem, Aaron voltou ao Twitter a fim de colocar um link para o seu texto no blog. Seu raciocínio era simples: mesmo que apenas algumas pessoas comprassem na livraria, pelo menos seria um reforço psicológico para sua mãe. Ao entrar no Twitter, viu que sua mensagem havia sido retransmitida por um amigo de Portland. Depois disso, outros amigos "retwitaram" o texto. No total, a mensagem foi repassada 30 vezes.

Nos três dias seguintes, o Everydaydude recebeu três vezes mais visitantes do que o total dos dois meses anteriores. Amigos contaram a Aaron que haviam recebido e-mails de estranhos com um link para o seu blog. Nos escritórios da Nike e da Adidas em Portland, o texto de Aaron foi parar no e-mail de alguns funcionários, que o retransmitiram para toda a empresa. Na agência de publicidade Wieden+Kennedy, em Portland, Jeff Selis, um antigo cliente da Broadway Books, recebeu um e-mail com um link para o blog de Aaron. Selis repassou a mensagem para toda a empresa. Em resumo: o pedido sincero de Aaron havia se tornado viral. Quem não estava colocando nenhuma fé nessa história era sua mãe. "Eu não sabia se era a favor daquilo tudo", diz Roberta. "Fiquei comovida com a atitude do meu filho, mas estava muito abalada com a situação da loja."

Um dia depois da publicação do texto no blog, a Broadway Books teve 12 vendas a mais que na mesma data no ano anterior. O crescimento se manteve nos cinco dias seguintes. Em vez dos clientes habituais da loja, geralmente de meia-idade, os novos clientes tinham 20 ou 30 anos: eram jovens desenhistas de calçados da Nike e da Adidas; pessoas que usavam gorros, fones de ouvido, bicicletas. Todas compraram pelo menos três ou quatro livros - ou seja, estavam atendendo ao apelo de Aaron. Roberta assistia àquilo tudo com surpresa e gratidão, mas não tinha esperança de que as coisas fossem realmente mudar. Assim que a neve chegar, pensou, os clientes vão desaparecer de novo. A primeira tempestade de neve do ano aconteceu na segunda-feira, 15 de dezembro. O ar adquiriu um tom cinza, um vento ártico soprou e o gelo quebrou galhos de árvores e derrubou cabos de eletricidade. Ao ver as ruas cobertas de neve, Roberta teve certeza de que a festa havia acabado. Mal sabia ela que estava apenas começando.

Em busca de histórias com clima de Natal, a mídia de Portland decidiu apostar na história emocionante que envolvia livros, blogs e burritos. Um artigo sobre a batalha quixotesca de Aaron para salvar a livraria da mãe foi publicado na edição on-line de um jornal semanal. Uma afiliada de uma rede de TV produziu uma matéria para o noticiário noturno. Enquanto isso, a neve cada vez mais alta impedia que os caminhões entregassem as encomendas da Amazon e de outras livrarias on-line. Dirigir era impossível, mas o Natal se aproximava e as pessoas precisavam comprar. Foi aí que caiu a ficha dos habitantes de Portland: por que não fazer a coisa certa e ir até a livraria do bairro?

Enquanto tudo isso acontecia, Aaron Durand, o autor da mágica, acompanhava o movimento de longe. "Fiquei surpreso com a reação das pessoas", diz. "Achei que meus amigos leriam meu blog, e talvez uns poucos comprassem alguns livros. Jamais imaginei que minha mensagem atingiria tantas pessoas." Ao fechar as contas de dezembro, Roberta percebeu que o impossível havia acontecido: ela havia vendido 7% a mais do que no ano anterior. Mais do que isso: dezembro de 2008 ficaria para a história como o melhor mês de vendas da Broadway Books de todos os tempos. "Ganhei o ano", diz Roberta. "Paguei todas as contas e ainda entrei no ano novo com folga para respirar."

Agora, só faltava Aaron cumprir o acordo que havia feito com a blogosfera e pagar um número desconhecido de burritos para todo mundo que aparecesse no Cha Cha Cha, em Portland. No dia 16 de janeiro, uma equipe de televisão compareceu ao local para registrar o grande evento. Aaron e sua mãe pagaram 80 burritos e o restaurante preparou mais 40. O comparecimento foi pequeno, mas entusiástico: eram principalmente amigos de Aaron e de seus pais. A maioria dos convidados não fez questão de comer de graça, apenas participou da festa. E a equipe de TV conseguiu sua matéria comovente para o jornal da noite.

Terminadas as férias, o filho de Roberta Dyer voltou para São Francisco, na Califórnia, e retomou seu trabalho na Birkenstock USA, em Novato. Em sua primeira manhã de volta, Aaron foi chamado ao escritório do presidente da empresa. "Pensei que ele fosse me despedir, porque eu havia gasto tempo demais no projeto da Broadway Books quando deveria estar trabalhando", diz Aaron. "Em vez disso, ele me deu parabéns e disse que tinha ficado impressionado com a maneira criativa como usei as redes sociais. Depois, me deu um aumento e me promoveu para o departamento de marketing da companhia."

Um mês depois da minha primeira visita, em fevereiro de 2009, retornei à Broadway Books. A livraria estava silenciosa. Um casal de meia-idade parou para fofocar e examinar os lançamentos, mas saiu sem comprar nada. "É assim que são as manhãs", disse-me Roberta. "Os negócios melhoram à tarde e durante o fim de semana. Domingo é nosso dia mais movimentado." Depois de uma breve pausa, ela continuou: "É claro que o que aconteceu em dezembro não salvou a livraria a longo prazo. A reação do público ao blog de Aaron foi uma coisa isolada, e só funcionou porque não foi forçada ou premeditada. Mas serviu para lembrar às pessoas a importância das lojas de bairro. Serviu para lembrar que o lugar onde você compra seus livros é importante. Por falar nisso, o que você está lendo?". Infelizmente, tudo o que havia lido nos últimos meses era a seção de esportes do jornal, respondi. "Venha comigo", ela disse, com um brilho nos olhos. "Acho que tenho uma coisinha aqui que você vai gostar."

domingo, 25 de julho de 2010

Saiu na mídia #2 Pinguim das Letras

Artigo de Raquel Cozer
Publicado no
O Estado de São Paulo em 16.07.2010

O logotipo mais famoso do mercado editorial mundial, o da ave marinha que dá nome à gigante Penguin, sofreu apenas retoques sutis desde que, em 1935, o editor britânico Allen Lane decidiu suprir o mercado com livros que fossem ao mesmo tempo baratos e bem editados. Menos tímida foi a expansão da empresa desde então. Ao longo das décadas, a Penguin ampliou seus domínios a outros seis países com idioma inglês, incluindo Estados Unidos, Canadá e Austrália.

E eis que agora, aos 75 anos, o pinguim conclui um terceiro passo em seu projeto expansionista para praias de idiomas estrangeiros. Após fazer parcerias com editoras na China e na Coreia do Sul, o braço americano da Penguin concretiza neste mês o acordo com a brasileira Companhia das Letras, anunciada no ano passado, para a publicação em português de títulos do selo Classics - que por aqui vira Penguin Companhia Clássicos. Já em pré-venda em grandes livrarias, chegam às lojas no próximo dia 26 os quatro primeiros filhotes dessa joint-venture: O Príncipe, de Maquiavel, Pelos Olhos de Maisie, de Henry James, e dois títulos organizados pelo historiador Evaldo Cabral de Mello, Joaquim Nabuco Essencial e O Brasil Holandês.

"Avaliamos de perto o mercado brasileiro e vimos grande potencial editorial. É um país em crescimento e no qual há espaço para edições de alta qualidade de clássicos da literatura", disse, por telefone ao Estado, de Nova York, o CEO da Penguin, John Makinson. Os títulos lançados por aqui custarão de R$ 15 a R$ 35, com tiragens que podem chegar a 18 mil cópias (caso de O Príncipe), num mercado em que o mais comum é lançar livros com algo em torno de 3 mil exemplares. Por exigência da Penguin, todos os volumes sairão também no formato digital, com preços de 30% a 40% menores que os das edições impressas.

Makinson, que participará da Flip no próximo dia 6, em mesa com o historiador americano Robert Darnton sobre o futuro dos livros, é um árduo defensor do formato digital. Seu trabalho nesse sentido lhe rendeu, neste ano, a 76.ª colocação no ranking da Media Guardian sobre os mais importantes nomes da mídia, numa rara seleção de um profissional do mercado editorial.


'O desafio é tornar a leitura interessante nos E-BOOKS'
Entrevista de John Makinson a Raquel Cozer
Publicado no
O Estado de São Paulo em 16.07.2010

Previsão. "Aposto que o Brasil em breve será forte em digital", diz o CEO da Penguin americana.

Uma exigência da Penguin na parceria com a Companhia das Letras foi que todos os livros da coleção Clássicos também saíssem no formato digital. Por quê?

Nos EUA, o mercado de e-readers vem crescendo rapidamente. Em pouco tempo, eles se tornaram plataformas atraentes para o leitor. No Brasil, as opções de leitores eletrônicos em celulares ou tablets ainda são incipientes, mas aposto que em poucos anos haverá um mercado significativo. Essa é uma razão. Outra razão foi entendermos que é possível oferecer bom material extra na literatura em formato digital. Por exemplo, se você pega Jane Austen, Orgulho e Preconceito, pode enriquecer o conteúdo digital com descrições de características do período, informações históricas sobre lugares onde os fatos se passam, trabalhos críticos. Tenho confiança na ideia de testar limites editoriais e acho que o Brasil logo terá mercado para isso. Você, que vê esse mercado de perto, o que acha?

O que me chama a atenção é o receio que editores têm de apostar nesse mercado. Tivemos em São Paulo um congresso sobre livro digital, e era dúvida recorrente a questão dos lucros. É possível lucrar com e-books?

Sim, claro que sim, porque o e-book não exige nada de manufatura, não exige investimento em distribuição e estoque. Você ainda tem o investimento, é claro, na edição, na divulgação do livro, mas não há custos físicos. Então a questão é: você pode determinar o preço do livro de forma que o consumidor fique satisfeito, e também o editor? Essa é uma das questões sobre as quais vou falar na Flip.

Já é lucrativo para a Penguin?

Sim, claro. Por que não seria?

Devido à pirataria, por exemplo.

Sim, isso é um fato. Mas no mercado do livro não tem sido como foi no da música. Há várias diferenças. Uma é que a psicologia do consumidor é outra. Na música, é interessante para jovens ter enorme quantidade de faixas no iPod, milhares delas. Não é cool ter milhares de livros no e-reader, porque ninguém conseguirá lê-los. Isso é um ponto. Outro ponto é que a indústria da música descobriu que o consumidor não queria comprar o álbum, e sim a faixa. Então o modelo desenvolvido por muito tempo não era o ideal. Não é o caso do livro. Não temos evidência de que as pessoas estejam interessadas em comprar capítulos, elas querem o livro. E, em terceiro lugar, as pessoas têm relação sentimental com o livro. Uma coisa importante na Penguin é a certeza de que os livros sejam bonitos para que as pessoas queiram ter e colecionar.

Mas na música também havia relação sentimental com álbuns. Será que as novas gerações terão essa relação com os livros?

Não sei! Creio que sim. Acho que há algo duradouro na relação sentimental com o livro. Nos EUA a oportunidade para pirataria e infração de direitos autorais já existe há muitos anos, há muitos sites de upload de conteúdo de livros. Não digo que não seja um problema. É um problema, mas não é "o" grande problema como na música. As vendas na Penguin continuam bem. Não estamos encolhendo, estamos crescendo.

Qual a parcela de livros da Penguin vendida no formato digital?

Os e-books chegam a 10% das nossas vendas. O que percebemos foi que há livros mais adequados para o formato digital que outros. Não são categorias totalmente consistentes, mas um novo best-seller, por exemplo, tem mais potencial para conteúdo extra na versão digital que um clássico, já que o próprio autor pode produzir esse conteúdo. O que é interessante é tentar entender o que o consumidor não compra quando compra o e-books, se deixa de comprar o livro hardcover (de capa dura, em geral a primeira edição de livros nos EUA) ou o paperback (tipo brochura).

Você foi citado no ranking dos nomes mais importantes da mídia em 2010 segundo o MediaGuardian por ações no mercado digital. Quais os próximos passos da Penguin nesse sentido?

O interessante desse ranking foi o argumento de que estamos redefinindo a indústria do livro. Alguns dos aplicativos que estamos desenvolvendo serão bem diferentes de tudo o que fizemos até agora. A maneira como apresentamos informações de viagem no iPad, ou como fazemos livros ilustrados para criança virem à vida, ou ainda como envolvemos redes sociais e comunidades de um jeito novo no mercado para adolescente. Isso tudo é muito novo e requer novas habilidades de editores. Significa que temos de entender novas tecnologias, novos critérios para determinar preços, temos de ser criativos na maneira de pensar no leitor. Não diminuo as questões que você levantou, a pirataria, a preocupação com lucro, são questões sérias. Mas, acima de tudo, estamos muito otimistas.

A digitalização de clássicos que o Google promove pode prejudicar as vendas da Penguin?

Bem, você pode obter no Google os clássicos em domínio público, mas, se fizer isso, a experiência de leitura não será atraente. Eles digitalizam e escaneiam manuscritos originais, e estes são os velhos, difíceis de ler. Mas eles no Google são espertos, logo darão jeito de melhorar isso. Com isso, nos desafiam a pensar em como tornar os Clássicos da Penguin realmente atraentes por seus preços. A questão é: o que você compra quando compra nossos clássicos é design, introduções, qualidade de tradução, notas de rodapé. Devemos deixar claro para o leitor o que temos de diferente, porque estamos propondo que comprem por uma quantia razoável de dinheiro algo que podem conseguir de graça. É um desafio interessante.


Penguin e Cia. das Letras: Desafio é rejuvenescer os clássicos
Publicado na TV Estadão em 20.07.2010

Assista ao vídeo sobre o lançamento do selo Penguin-Companhia.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Saiu na mídia #1 Como estarão as livrarias em cinco anos?

Caros leitores, como tem saído muita matéria sobre o negócio do livro e, como nem sempre é possível ter acesso a elas, vou passar a transcrever na íntegra esse material para que possa vir a ser lido, acompanhado e discutido pelos interessados. Esses "posts", que NÃO são de minha autoria, terão o título iniciado com "Saiu na mídia #(contador) e o título original da matéria". No início do texto do post virá o nome do autor e onde foi publicado, além do link para a mídia original.

Artigo de Mike Shatzkin

Publicado no PublishNews de 21/07/2010


Como estarão as livrarias em cinco anos?
O futuro das livrarias é uma questão existencial para os editores de livros de hoje (sem mencionar os livreiros!).

Upton Sinclair disse certa vez que “é difícil para um homem entender uma coisa quando o seu salário depende dele não entender essa coisa.” Continuo apresentando fatos sobre as realidades comerciais do mundo editorial que eu acredito que a maioria das pessoas espertas que administram seus negócios aceita, juntamente com as previsões de futuro que eu penso que a maioria das pessoas espertas que administram seus negócios aceita e apresentando uma visão de onde estaremos num futuro próximo que eu acho que muito poucas pessoas aceitarão.

Definitivamente nós passamos pelo que Michael Cader chamou de “o auge das livrarias” nos Estados Unidos. Espaço na prateleira para livros está provavelmente caindo mais rápido que o número de lojas enquanto os vendedores de livros procuram por produtos que deixem seus clientes ainda mais satisfeitos e deixam esses produtos no espaço anteriormente dedicados aos livros. E o espaço em prateleira para editoras que não possuem livrarias próprias está caindo ainda mais rápido porque a Barnes & Noble, a líder em oferecer espaço em suas prateleiras, está apostando agressivamente em seus próprios produtos tanto para melhorar sua margem de lucro como para oferecer produtos que os competidores não ofereçam.

O futuro das livrarias é uma questão existencial para os editores de livros de hoje (sem mencionar os livreiros!). Apesar de não ser sempre dito com todas as letras, a principal questão para a indústria editorial é que elas consigam colocar livros nas prateleiras. Todo o resto que elas fazem (e frequentemente o fazem muito bem) – selecionar, editar, desenvolver, empacotar, e promover – é um argumento fraco. E normalmente não se pode medir. Uma grande editora e um agente adicionariam a essa lista a função “financeira”: pagar adiantado para o autor escrever o livro. Mas eu diria que isso também é um argumento fraco (tem um monte de dinheiro lá fora esperando por oportunidades de investimentos) então a oportunidade da editora ser inclusive o banqueiro também depende da habilidade da editora de colocar livros nas prateleiras das livrarias.

Então, sabendo disso ou não (e, nos níveis mais altos das maiores editoras, eles com certeza sabem) a vantagem competitiva da indústria editorial é totalmente dependente da sobrevivência do espaço na livraria física, de tijolos, o que é muito diferente da venda total de livros e mesmo da venda total de livros impressos. Você não precisa de uma organização com o tamanho ou a capacidade das maiores editoras para alcançar clientes por canais online. E, de fato, porque as maiores editoras são horizontais no que diz respeito aos seus negócios, o tamanho delas é mais uma desvantagem do que vantagem para competir no mercado online.

Nós consumimos uma grande quantidade de produtos de uma indústria considerando que o Nook e o Kindle sobreviverão ao iPad e outros tablets. Eu diria que isso não nos interessa de verdade. O mais importante é que mais e mais pessoas estão lendo em telas, do que pessoas que diminuíram as compras de livros em papel (um fato recentemente documentado no estudo sobre consumo de ebook da BISG-Bowker), e o fato de que as compras de livros digitais são feitas online com pouco espaço para participantes reais (apesar de um maravilhoso vídeo francês de quatro anos atrás e uma explosão de otimismo ingênuo de um executivo da ABA em uma mesa de debates da BEA).

(Parágrafo da divagação: uma visão muito mais realista do que eBooks e compras online significam para livrarias independentes hoje em dia é uma visão pessimista de um blog de um dos líderes nacionais das independentes, Northshire Bookstore de Manchester, Vermont. Nós sabemos que o Google alimenta as esperanças de que eles podem oferecer uma inclusão significativa para as independentes no mercado de eBook. Mas mesmo que os esforços do Google surtam efeito, eles não apóiam a loja independente, eles apóiam o dono da loja. Há uma diferença.)

Então a corrida entre os eReaders dedicados, baseados em e-ink e os tablets de múltiplas funções acelera o movimento de consumo do livro impresso para o digital; e o movimento de consumo de livro impresso para livros digitais acelera a mudança da compra em loja para a compra online; e a mudança para compra de livros online, sejam impressos ou digitais, acelera a redução de espaço nas prateleiras das livrarias reais.

E a redução do espaço das lojas reais desafia cada vez mais a principal questão de todas as maiores editoras de livros. Em junho, um painel com CEOs de editoras sugeriu um consenso de que entre 40% e 50% do total da venda de livros em cinco anos será eBooks. Alguns dias atrás, outra executiva de uma editora líder de mercado, Gina Centrello da Random House, fez a mesma previsão. Eu acho, se é que acho alguma coisa, que essas previsões são conservadoras, mas se nós as aceitarmos como estão, as implicações são profundas.

Metade das vendas sendo digital significa que metade das transações já será online. Isso chama a próxima pergunta, que é: “Quanto da outra metade será online e quanto será na loja física?” A resposta para essa questão depende de duas variáveis: as preferências de compra dos consumidores e a capacidade das lojas em se manter abertas mesmo com queda nas vendas. As duas variáveis estão conectadas: quanto mais longe de você está uma livraria decente, mais perto você está de comprar online. E quanto mais você compra online, maior a probabilidade de que a loja mais perto irá fechar.

É uma estimativa conservadora a de que 20% das vendas de livros impressos são realizadas online e que os eBooks correspondem entre 5 a 8% do total das vendas. Isso significa que o consenso estima que a fatia de mercado de eBook vai crescer entre 5 e 10 vezes nos próximos cinco anos. Isso não é irracional porque a venda de eBooks mais que dobrou anualmente nos últimos anos e essas 10 vezes seria apenas algo em torno de duas e meia a três “dobras” em cinco anos. (Centrello disse que eles aumentaram de 3% para 10% no ano passado e, sem saber precisamente que período é compreendido por “ano passado”, nós certamente esperamos mais do que o efeito iPad para o “próximo ano”.)

Esse tipo de crescimento em vendas de eBooks sugere um público leitor cada vez mais digitalmente confortável. O que faz deles mais prováveis compradores online também. Então isso é uma estimativa conservadora de vendas online de livros impressos para daqui cinco anos. Não dá pra aumentar de 5 a 10 vezes e ainda sobrar alguma venda em lojas físicas. Então vamos dizer (e eu diria bem conservadoramente), que as vendas de impressos em 2015 serão metade online e que o espaço na prateleira sobreviverá o bastante para que metade das vendas seja em lojas reais. (Eu tenho que dizer enquanto escrevo isso que eu mesmo tenho problemas em acreditar nisso, mas a maioria das pessoas teria ainda mais problemas em acreditar em mim, se eu dissesse o que me desse na telha.)
Essa conta deixa a venda de impressos através das lojas em 25% do total das vendas de livros. Hoje, se a venda de impressos de uma loja está em 80% nós presumimos os impressos sejam 90% do total de vendas de livros (usando os 10% da Centrello como base para uma tentativa mais conservadora para este cálculo específico), então estamos falando em uma queda de 72% das vendas em lojas físicas hoje para 25% em cinco anos! Isso significa uma perda de aproximadamente dois terços das vendas atuais! E isso vale para todas as lojas: cadeias de livrarias, livrarias independentes e grandes varejistas.

Eu não estou ouvindo nada nas declarações de editoras ou executivos de livrarias que sugiram que alguém esteja se preparando para mudanças tão drásticas. E não vejo nada nas tendências que sugerem que nós podemos evitá-las.

Fale a verdade. Se eu tivesse entitulado esse texto, “Executivos da indústria prevêem queda de livros em lojas físicas em 65% em cinco anos”, você não começaria a ler achando que eu estivesse louco, certo?

Escrevi um post três meses atrás chamado Why are you for killing bookstores? que foi um assunto similar, focando nas relações de ontem e de hoje entre o crescimento dos eBooks e a sobrevivência das livrarias (Quando um cresce, o outro cai). Foi um dos posts mais comentados nos 17 meses em que escrevo este blog. Eu acho que isso é o resultado do que pode ser a consequência natural da máxima de Sinclair que é mais ou menos assim: “É muito difícil fazer alguém entender algo quando entender isso ressalta o conflito entre duas ideias que o atraem.”

De como chegamos a este estado de coisas

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